domingo, 20 de julho de 2014

Descobrindo a amizade...

Dizem que hoje é dia do amigo, eu até sinto vontade de lamentar os amigos que perdi nestes últimos meses, de dizer o quanto me decepcionei, mas meu tempo é muito precioso para reviver essas dores que não merecem minha atenção... Dedico este dia então, aos meus poucos e verdadeiros amigos, aqueles que perto ou longe estiveram e estarão sempre comigo. E registro aqui uma das histórias de amizade mais belas que já vivi. 

9 de setembro de 2012, era uma manhã ensolarada de domingo, estava no Parque do Ibirapuera onde acontecia o Festival Mundial da Paz, eu havia acabado de completar 27 anos de idade e recebia de presente a oportunidade mágica de participar de algo tão incrível, passei 4 dias de festival cuidando da Tenda da Alegria, nela aconteciam apresentações de música, teatro e dança.

Trabalhando no festival, consegui assistir apenas uma apresentação e escolhi as flautas encantadas de Daniel Namkhay. Antes de me acomodar avistei de longe uma menina, aparentemente debilitada e frágil, usava máscara, chapéu, pele clara e magra. Sentei em seu lado, e neste precioso momento eu vi nascer a história de amizade mais linda que já ouvi... Ela se emocionava ao som da música, e eu também. Nos demos as mãos e choramos juntas. No fim de tudo, trocamos algumas palavras, ela quis saber do festival e eu de sua história.

Priscila Kiffer, uma jovem linda e cheia de vida, capixaba, falava com amor de seu filho e de sua família e amigos. Visitava São Paulo para restabelecer sua saúde, faria em poucos dias o transplante autólogo de Medula. Pediu-me indicação de apartamento para sua família ficar enquanto estivesse internada, eu imediatamente ofereci minha casa. Diz ela que me achou muito maluca, e obviamente recusou o convite. (Rs)

Ficamos em contato, trocávamos mensagens de celular e pude acompanhar de longe (mas muito perto) seu tratamento e sua recuperação. Estava com alguns amigos almoçando quando recebi a notícia de que a medula havia “pegado”, brindamos sua nova vida.

Durante os meses de seu tratamento em São Paulo eu entrava constantemente em seu facebook para ver suas fotos, via imagens de antes do tratamento, eu ficava horas e horas refletindo sobre essa doença, como podia transformar as pessoas daquela maneira? Buscava uma explicação, me questionava, e confesso que não entendia. Algo dentro de mim se revoltava e sentia não ser justo uma mulher linda e saudável, como aparentava nas fotos viver aquele sofrimento todo.

Dias depois eu entendi... Era dezembro, e Priscila já havia retornado para Vila Velha quando me ligou dizendo que agora, depois de perceber que não sou tão maluca assim, ela aceitaria o convite para pousar em minha casa em janeiro, pois retornaria a São Paulo para consulta médica. Disse que talvez pudesse estar internada... Ela assustada questionou e eu contei... “Acabei de receber o diagnóstico de Câncer de Mama”, lembro que ficou em silêncio, se indignou e chorou, mas em poucas palavras me contou o que aconteceria, o que teria que fazer, e de uma maneira forte e decidida disse que estaria sempre ao meu lado. Foi aí que eu entendi por que olhava suas fotos, por que me questionava, e por que naquela manhã de setembro eu sentava em seu lado.

Naquele aniversário eu ganhei uma amizade sincera e de um amor incondicional. Hoje depois de tudo que passamos juntas, posso dizer que foi neste encontro que eu vivi uma verdadeira relação de fraternidade, compaixão, companheirismo, amor, alegria, união e sobretudo paz.

E foi assim em 2013... Eu em tratamento e ela também, precisou retornar as sessões de quimioterapia e recebeu a notícia de que precisaria de um novo transplante, agora de um doador.  Mas nem por isso deixamos de viver juntas momentos de imensa alegria, entre uma quimioterapia e outra, peguei o avião e aterrissei em Vila Velha, era aniversário de Priscila e uma festa linda aconteceria, família encantada, amigos lindos e muita cumplicidade, afinal de contas estávamos com as mesmas limitações (rs), cansávamos facilmente, não podíamos entrar no mar, nem sair, nem beber, mas... Podíamos sim agradecer a vida apenas pelo fato de estarmos vivas e juntas, a sabedoria Divina que rege nossas vidas nos uniu. Meses depois, era ela quem aterrissava em São Paulo para o meu Sarau de aniversário, veio acompanhada do filho e de duas amigas, nos divertimos, passeamos por São Paulo, acordávamos dando gargalhadas e assim ia até o final do dia, e mais uma vez agradecíamos por estarmos juntas.

Já em 2014, eu tive alta e ela retornaria a São Paulo, pois um anjo havia lhe enviando um doador compatível. E durante todo o processo do transplante estive contigo, eu e toda minha família se mobilizando para ajudá-la, afinal de contas agora ela fazia parte da família também. Eu confesso que ir visitá-la não era uma tarefa fácil, entendia parte de seus incômodos, e sentia no fundo da minha alma as suas dores. Eu respirava fundo, pedia ajuda a Deus e entrava em seu quarto, e lembrava de como as pessoas se comportavam ao irem me visitar, e fazia com ela aquilo que fizeram comigo, lhe contava causos, fofocas, coisas engraçadas,... Foi o que fiz, mesmo com o coração apertado, eu me enchia de amor, alegria e ia visitá-la.  Sempre que via uma paisagem bonita eu fotografava e enviava para ela, sei que não via a luz do dia a muitos dias e tampouco percebia a beleza que a esperava do lado de fora.

Hoje, ela está curada e eu também. Somos amigas, irmãs, cúmplices e parceiras. Com ela aprendi que amizade é isso, um encontro repentino cheio de sentido, que enche os corações de amor e alegria, que nos faz crer na presença Divina, que não há nenhuma relação com o ou espaço, ela lá e eu cá, nos vemos poucos, mas nos sentimos a cada pulsar do coração.


“A arte de sorrir cada vez que o mundo diz não...
Você verá que a emoção começa agora
Agora é brincar de viver”



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