quinta-feira, 11 de abril de 2013

Correndo risco de vida...



31 de dezembro de 2011
Estes dias conversando com um mestre, destes velhos e sábios, novos e ingênuos... Ele disse “... o pior já passou”, eu resmunguei afirmando, “É claro que não! A quimioterapia me derruba, fico fraca dias e dias, com uma sensação horrível”, ele complementa “Sim, é isso mesmo, precisa ser assim, forte e intensa para lhe proteger para uma vida longa, pelo menos quimioterapia não mata, não é mesmo!?”.

É claro que depois disso, o silêncio se instalou, eu chorei e pensei que realmente a história poderia ter tido outro rumo, mais trágico e sofrido. Foi então que me dei conta que troquei a zona de risco, do risco da morte para o risco da vida.

Ter risco de vida é muito mais assustador que ter risco de morte, a morte não me afligia e viver este risco era simplesmente me entregar as dores e sofrimento e esperar o tempo tomar partido e por fim ir... Simplesmente nada a fazer.

Viver o risco de vida implica em ter atitude, ação, coragem... Arriscar-se a viver é fazer uma lista de todas as coisas que desejo fazer nesta existência e começar colocá-las em prática, e isso me assusta. A frustração de desejar alto pode ser grande, mas a frustração de nada desejar pode ser maior ainda...

É como olhar em um binóculo e antes do zoom conseguir olhar a magnitude de possibilidades existentes e com o zoom perceber a riqueza em detalhes, a beleza sutil presente em cada possibilidade. E então deixar o binóculo de lado e seguir em direção, a essa imagem por hora encantada, mas tão viva e real quanto a possibilidade de estar presente aqui neste momento.

Eu tenho feito a minha lista, tenho desejado tantas coisas que o risco de viver é enorme... São coisas que jamais imaginei sonhar, jamais desejei e que hoje são tão vivas, verdadeiras e intensas que a vontade é sair correndo e viver a aventura deste risco... Andar entre muros, entre carros, entre estradas, entre paisagens, entre eu e você, entre o agora, o depois e o antes. É como se coração estivesse agindo em direção a uma magnífica paisagem, a visão perfeita do que seria o mundo encantado, sem métrica, sem forma, sem horário, sem ordens, feito somente da graça e da beleza de caminhar crendo que uma melhor paisagem sempre há por vir. E sentir que aquele que tanto me inspirou, hoje caminha lado a lado, e se um dia desejei ser igual, ele sussurra em meus ouvidos me encorajando a ser simplesmente melhor.

Os desejos me parecem complexos, imateriais, eu não quero o carro do ano, a casa perfeita, nem a viagem dos sonhos. Eu almejo dignidade, quietude, plenitude, força e coragem para andar por caminhos desconhecidos, abstratos e intocáveis, supérfluos para alguns, mas essenciais para mim.

O risco de viver está exatamente em ter a consciência da responsabilidade que tenho nas mãos e nos pés, a consciência de que os caminhos serão sempre sinuosos e entre vales e montanhas, o topo será apenas uma passagem... Ora encima, ora embaixo, enquanto encima estiver desfrutar da beleza da amplitude que se apresenta a minha frente e ter na lembrança o quanto forte fui para chegar até ali... E quando no vale estiver que eu possa ter a dignidade de repousar na beira da lagoa, ouvindo o canto dos pássaros, desfrutando da bela paisagem que se apresenta tão próxima, e que inclui a minha presença.

Eu não tenho medo do risco de morte, eu sei que a passagem vai acontecer a qualquer momento para todos nós, mas o risco de viver este é incerto, uns vivem, outros sobrevivem, outros passam sem se quer ter vivido...
RTZB