Meus sonhos têm sido encantados e um
tanto significativos... Hoje pela manhã acordei cantarolando a seguinte frase “Verbo eu pra mim já morreu” do Gonzaguinha... Talvez
seja meu inconsciente tentando me dizer
algumas coisas... Que o ego está se dissolvendo... Que o apego está se
desapegando... Talvez seja uma morte... Talvez seja um renascimento... E um
pouco disso tudo, eu sinto ao me despir dos fios que emolduravam meu rosto, escondiam
uma beleza tímida e uma força adormecida. Confesso que a alguns anos, alimento
o desejo de raspar a cabeça, certa vez até sentei na cadeira para fazer isso...
Mas me faltou coragem. Hoje não penso que tenha faltado coragem, mas sim que
este desejo e esta desistência eram somente momentos preparatórios que
antecediam com muita graça e beleza o momento presente.
Sabia que a partir do
décimo dia após a primeira sessão de quimioterapia, meus cabelos começariam a
cair... Ansiosa, disse que rasparia já no décimo dia... Desisti... Os cabelos
estavam fortes e nada mudara... Décimo primeiro dia idem... Décimo segundo,
idem... Décimo terceiro, senti enfraquecendo... Décimo quarto, fracos... Senti
uma dor imensa na boca do estômago, um aperto no coração, tristeza, angústia, e
profunda dor na alma... O dia foi longo e o medo de tocar nos cabelos e vê-los
caindo me acompanhou até dormir. Decidi que cortaria no dia seguinte! Décimo
quinto dia, era cabelo para todo canto, mau encostava e já caia, mas decidi me
divertir e aceitar que em breve deixaria-os para trás.
Decidi que
rasparia, e pensei mil formas de fazer isso, desejei que muitas pessoas
estivessem junto, desejei, desejei, desejei... E percebi que não daria conta de
satisfazer tantos desejos... Abri mão de todos eles, e deixei que o Universo
preparasse este momento... E assim aconteceu, um amigo me disse “Por que não
faz um ritual? Peça para que alguém dirija este momento e desfrute dele
plenamente...” Avisei algumas pessoas, e desejei que estivesse presente quem
tivesse que estar. E de forma suave e fluida, este momento aconteceu... Estavam
presentes meus pais, minha madrinha, um amigo e quem eu pedi para conduzir este
momento...
Rito de passagem...
Rito de iniciação... Celebração... Nascimento! Com certeza um breve momento
divino, de aceitação, entendimento, gratidão e alegria. As palavras ditas foram
sábias e precisas, e o que poderia ser um momento de dor, foi uma festa... Cortaram
meu cabelo primeiro, e depois meu pai e meu amigo passaram a máquina... E uma nova
mulher nasceu... Eu não desabei em lágrimas, pelo contrário, todos que ali
estavam se divertiram... Me sinto bela e forte!
RTZB