domingo, 17 de março de 2013

Força na careca!



Meus sonhos têm sido encantados e um tanto significativos... Hoje pela manhã acordei cantarolando a seguinte frase “Verbo eu pra mim já morreu” do Gonzaguinha... Talvez  seja meu inconsciente tentando me dizer algumas coisas... Que o ego está se dissolvendo... Que o apego está se desapegando... Talvez seja uma morte... Talvez seja um renascimento... E um pouco disso tudo, eu sinto ao me despir dos fios que emolduravam meu rosto, escondiam uma beleza tímida e uma força adormecida. Confesso que a alguns anos, alimento o desejo de raspar a cabeça, certa vez até sentei na cadeira para fazer isso... Mas me faltou coragem. Hoje não penso que tenha faltado coragem, mas sim que este desejo e esta desistência eram somente momentos preparatórios que antecediam com muita graça e beleza o momento presente. 

Sabia que a partir do décimo dia após a primeira sessão de quimioterapia, meus cabelos começariam a cair... Ansiosa, disse que rasparia já no décimo dia... Desisti... Os cabelos estavam fortes e nada mudara... Décimo primeiro dia idem... Décimo segundo, idem... Décimo terceiro, senti enfraquecendo... Décimo quarto, fracos... Senti uma dor imensa na boca do estômago, um aperto no coração, tristeza, angústia, e profunda dor na alma... O dia foi longo e o medo de tocar nos cabelos e vê-los caindo me acompanhou até dormir. Decidi que cortaria no dia seguinte! Décimo quinto dia, era cabelo para todo canto, mau encostava e já caia, mas decidi me divertir e aceitar que em breve deixaria-os para trás.

Decidi que rasparia, e pensei mil formas de fazer isso, desejei que muitas pessoas estivessem junto, desejei, desejei, desejei... E percebi que não daria conta de satisfazer tantos desejos... Abri mão de todos eles, e deixei que o Universo preparasse este momento... E assim aconteceu, um amigo me disse “Por que não faz um ritual? Peça para que alguém dirija este momento e desfrute dele plenamente...” Avisei algumas pessoas, e desejei que estivesse presente quem tivesse que estar. E de forma suave e fluida, este momento aconteceu... Estavam presentes meus pais, minha madrinha, um amigo e quem eu pedi para conduzir este momento...

Rito de passagem... Rito de iniciação... Celebração... Nascimento! Com certeza um breve momento divino, de aceitação, entendimento, gratidão e alegria. As palavras ditas foram sábias e precisas, e o que poderia ser um momento de dor, foi uma festa... Cortaram meu cabelo primeiro, e depois meu pai e meu amigo passaram a máquina... E uma nova mulher nasceu... Eu não desabei em lágrimas, pelo contrário, todos que ali estavam se divertiram... Me sinto bela e forte!
                                                                                                                                                                                                                                     RTZB