sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

É preciso saber viver...


“Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces.
Recomeça.”
Cora Coralina

Eu me lembro da madrugada do dia 31 de janeiro de 2013, o alarme do hospital tocou por engano, e não por engano eu acordei... Assustada e aflita, não pela sirena, mas pelo momento que estava vivendo. Minha cabeça doía muito, o ar condicionado fazia um barulho ensurdecedor, e eu sentia uma dor imensa no peito... Angústia, tristeza, medo, solidão. Chorava um choro contido e amargurado. Sentia raiva, muita raiva. As sensações ruins só aumentavam, implorava ajuda em oração... Hoje, sempre que digo “Seja feita a vossa vontade...” eu me lembro desta noite, era a única coisa que me tranquilizava um pouco, tinha fé que não seria desamparada. Sabe de uma coisa, talvez aquela tenha sido a noite mais longa da minha vida, a maior tristeza que senti e o maior medo que tive... O medo do obscuro, do desconhecido, ou talvez conhecida... A Dona Morte me visitou, a vi de perto e indaguei por que eu havia sido escolhida, por que tão cedo, por que doía tanto... Ela nada me disse, deu as costas e desapareceu. Adormeci, um sono profundo e iluminado. Sonhei que minha cama estava rodeada de anjos cuidadores, acordei com um cafuné na cabeça, eram alguns amigos... Não conseguia saber o que era sonho e o que era realidade. Depois vi meus pais, me despedi e segui... Não havia mais medo. Não sei o que houve nas 4 horas seguintes, adormeci enquanto mãos iluminadas cuidavam de mim e desfaziam o nó que eu mesma havia dado em meu peito. Desataram os nós, e eu desaguei as más águas... Chorei lágrimas de alegria com sorrisos de gratidão. Eu sabia, que nada mais seria como era antes. E tudo mudou, dentro e fora de mim. Se me perguntarem se me incomodo em não ter parte da Mama, certamente digo que não! É o símbolo da força e da coragem que hoje carrego em meu peito. Este momento será sempre lembrado como o início de um processo de renascimento... Eis me aqui agora, relembrando com emoção o que jamais será esquecido e constatando que a impermanência da vida é o que dá cor e sabor a nossa passagem por aqui. Nada é pra sempre, tudo é passageiro, transitório, tanto as alegrias quanto as tristezas. Eu sou gratidão, e neste momento sinto alegria pela vitalidade pulsando novamente em meu corpo.

Mãe, Pai e Irmãos! Minha vida, minha cura!


"Toda pedra no caminho, você pode retirar...
É PRECISO SABER VIVER"