segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Além de mim mesma...

As pessoas insistem em dizer que sou vitoriosa...  E eu sei que sou! Quando olho para trás e vejo o que fui capaz de suportar, eu realmente me sinto assim... Sei o quanto tive que ser forte para não sucumbir, usei todas as armas que encontrei pela frente, me vesti com armaduras e parti para a guerra. Mas isso não faz de mim alguém especial, iluminada, evoluída,... Apenas uma menina que se transformou em mulher e aceitou os desafios que recebeu. Essa capacidade de vencer, todos temos. Eu apenas reconheci essa força e a usei... Essa força é a mão divina tocando o coração e enchendo-o de vontade de viver.

Eu não era assim... Eu não me sentia em paz... Virginiana, perfeccionista, cheia de manias e chatices, insegura e frágil... Se eu mudei? Não! Continuo sendo virginiana, perfeccionista, cheia de manias e chatices, insegura e frágil... Mas agora respiro fundo, confio naquilo que não posso ver, me aceito como sou e cuido de mim. Sei o que me faz bem, e também o que não me faz... Penso primeiro em mim. Egoísmo? Para alguns, talvez! Para mim, amor incondicional a vida que habita em mim!

Quando não se tem medo, a vida se torna uma grande aventura... Eu achava que minha vida ficaria estagnada, é verdade que ela parou por um período. Foram meses pensando o que de fato eu queria da vida... Quais eram meus sonhos? Eu havia me esquecido deles, precisava desta pausa para relembrá-los... O que perdi neste tempo!? Apenas um quadrante da mama, por que todo o resto eu ganhei... Sonhos e desejos renovados, cabelos encaracolados, determinação, confiança, fé e alegria.

Sabe... Eu vejo todos os dias as cicatrizes que o Câncer deixou em mim, marcas que levarei por toda a vida, e que não me fazem menos mulher, nem menos bonita, apenas diferente. É exatamente neste diferente, que eu reconheço a minha real beleza e o meu verdadeiro valor, que não está na estética de um corpo perfeito... O corpo mudou... É isso, a matéria mudou, mas o que existe dentro não... Sei que sou muito mais do que cabelo e peito. É fato que nunca fui muito vaidosa, mas confesso nunca me senti tão linda quanto nos dias que estive careca, eu finalmente me reconhecido como mulher.


Eu tive Câncer de Mama aos 28 anos e não sei quando essa história se tornará passado, ela é viva e presente em meus dias, me faz pensar e principalmente agradecer a saúde e a vitalidade em meu corpo e agradecer o quanto generosa a vida têm sido comigo me presenteando com momentos encantados ao lado de pessoas especiais. 

Com Iara Odete.
Foto de Marion Caruso