domingo, 1 de dezembro de 2013

Reflexões de um domingo qualquer...

“Curioso que ela nada saiba sobre si mesma. Quem sabe sobre a Morte são os vivos. A Morte, ao contrário, só fala sobre a Vida, e depois do seu olhar tudo fica com aquele ar de “ausência que se demora, uma despedida pronta a cumprir-se” (Cecília Meireles). E ela nos faz sempre a mesma pergunta: “Afinal, que é que você está esperando?” Como dizia o bruxo D.Juan ao seu aprendiz: “ A morte é a única conselheira sábia que temos. Sempre que você sentir que tudo vai de mal a pior e que você está a ponto de ser aniquiliado, volte-se para sua morte e pergunte-lhe se isso é verdade. Sua Morte lhe dirá que você está errado. Nada realmente importa fora do seu toque… Sua Morte o encarará e lhe dirá: ’Ainda não o toquei’”. E o feiticeiro conclui: “Um de nós tem de mudar, e rápido. Um de nós tem de aprender que a Morte é a caçadora, e está sempre à nossa esquerda. Um de nós tem de aceitar o conselho da morte e abandonar a maldita mesquinharia que acompanha os homens que vivem suas vidas como se a Morte não os fosse tocar nunca.” Rubem Alves em Que não seja súbita.

É a senhora Morte que tem me ensinado a esquecer, a perdoar, a desapegar, a entregar e a confiar...  E simplesmente ser detentora da minha fé, essa força que me guia e me ampara a todo instante.  Eu ainda sinto dores e tristezas, e continuarei sentindo... Aliás isso faz de mim um ser humano, com sentimentos sublimes e instintivos... Também sinto medo, o medo que me impede de seguir adiante, pode ser o mesmo que me protege contra um caminho que não devo seguir, e por isso resisto.

Eu reconheço que perdi um “bocado” de coisas em tempos de chuva, abandonei planos, sonhos, pessoas... E ao mesmo tempo isso me faz sentir pesar e alivio... Levo comigo somente as bagagens que me servem...  Talvez eu carregasse bagagens que não eram minhas... Pois agora decidi, carrego apenas as minhas e muito bem selecionadas...

Aquilo que me faz mal simplesmente não me serve...  E infelizmente descubro que pessoas podem me fazer mal... E ao invés de lastimar o tempo que me dediquei a elas, eu simplesmente mudo a rota...  E eu tenho mudado constantemente...

A ausência no blog, é exatamente por perceber essas mudanças... Os pensamentos mudam numa velocidade voraz, e subitamente eu me vejo com novos planos, novas idéias, novos amigos, novos amores, e novos desejos... Tem algo que não muda, apenas cresce... É a confiança em mim mesma. Ninguém e nada será capaz de me derrubar... Eu fui capaz de me curar, eu vi meu corpo esmorecer e tive forças para mantê-lo em pé, eu tive a coragem que nem todos teriam, eu senti dores no corpo e na alma, eu vi a Senhora Morte do meu lado esquerdo me seduzindo a todo instante. 

Pois agora, sei que ela está ali, e sempre estará... Pois em qualquer momento ela pode me tocar... E como bem diz Pai Caetano, “A vida é um estalar de dedos, e quando o coração pulsa é uma festa, por isso aproveite. E quando tiver que chorar, entenda que a lágrima é o sangue branco que precisa ser colado para fora.” 

Eu estou em festa e tenho muito que colocar pra fora ainda! Tenho aprendido a estar em silêncio, a escutar o eco que ressoa em meu coração e aceitar o que ele silenciosamente diz...  E às vezes ele diz que o melhor a ser feito é sair de cena, virar a página, ou mesmo fechar o livro... 

Tudo isso pra dizer a mim mesma que eu não tenho tempo nem energia a perder com mesquinharias, bobagens e infantilidades... Tenho milhões de novos planos  pra colocar em ação. 


“Dionísio é a imagem da existência imediata e da perdição total. Ele é o dançante embriagado, o ruidoso portador da alegria, mas também o Deus sofredor que, como um arado, resolve tudo o que enrijeceu e o que sobreviveu, preparando assim a terra para nova vida…” 
Bernhard Wosien em Dança um Caminho para a totalidade.