segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Novos tempos...

Alguns dias se passaram desde o último post. E eu fico me perguntando, o que tem acontecido com as palavras que escorriam de meus pensamentos... Não sei. Cheguei a pensar que meu olhar pudesse ter perdido a poesia. Mas entendi, que agora os tempos são outros, a rotina de exames, médicos, medicações e cirurgias ficaram lá trás... Em um tempo distante, apesar de as vezes se aproximar em minhas lembranças... Sei que está distante, e ficará cada vez mais.
 
Percebi que tenho me esquecido daqueles dias, nem lembro mais como eram... Hoje, desejo um dia de trabalho com a leveza de uma tarde de domingo. Quero poucos por perto, poucos mas bons amigos. Trocar "eu preciso" por "eu gostaria". Eu gostaria de estudar mais, viajar mais, sorrir mais, dançar mais... Cuidar do meu corpo, não me importa barriga sarada e braços fortes, me interessa organismo vitalizado, pleno e saudável.
 
Agora reconheço a poesia para além das minhas fronteiras, me reconheço e me transformo em cada encontro... Em cada gesto realizado por crianças, jovens e adultos que movem seus corpos livremente no espaço/tempo raro do agora. Raro, pois estamos cada vez mais distante do presente, ora estamos acorrentados no passado, ora ansiosos no futuro. E o presente passa por nós como fagulhas do tempo...
 
Eu que tento evitar as más notícias, não por covardia, mas por preferir o encanto e beleza das boas noticias. Busco reconhecer instantes de gentileza, compaixão e gratidão... Instantes que reconheço nas ruas agitadas de São Paulo, no ambiente de trabalho, na fila do supermercado, no passeio no parque... São estes momentos que renovam a minha esperança na humanidade.
 
Digo ainda, que sou privilegiada em trabalhar com a arte da educação, ou a arte do movimento, ou apenas a arte de compartilhar saberes e se transformar em cada encontro. Encontrar-me todas as vezes em que o outro me surpreende, não por eu desacreditar de sua capacidade, mas simplesmente por eu reconhecer que a arte, essa que escolhi como ofício, será por fim a nossa única salvadora.
 
Sacrifícios, sagrados ofícios realizados diariamente para não permitir que a arte criada por aqueles que expressam sua verdade de forma simples e sublime sejam anulados... Anulados por uma sociedade corrompida. Desejo que seus olhos continuem olhando para o horizonte de forma íntegra e criativa, que possam cada vez mais criar poesias, textos, danças, cantos...
 
Assim será as próximas postagens deste blog. Minha saúde deixa de ser o que me importa, apesar de ser a única coisa que verdadeiramente preciso me importar, afinal de contas se eu não exercer o cuidar para comigo, quem exercerá? Mas, isso eu já entendi. Posso agora virar a páginas deste livro... Ou quem sabe iniciar uma nova história, agora repleta de encontros, de saberes, de alegrias e de muita... Muita esperança.  

"Mãos que dançam e colorem a humanidade com entusiasmo.
Mãos que tocam o outro com cuidado e respeito.
Mãos que agem juntas em busca de algo.
Algo que transborde de si.
Uma palavra. Um gesto. Um olhar.
Algo que toque o outro.
Algo que transforme!"

Ateliê do Projeto Espetáculo da Fábrica de Cultura Cidade Tiradentes.
Processo de criação do espetáculo " Mariana"
 
Marília Costa.