terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Feliz Natal!

No Natal de 2012 eu desejava apenas força e coragem... E naquela noite eu renovei a minha fé! E eis que fui presenteada o ano todo com muito amor, alegria, paz e saúde. E na noite de hoje, eu apenas agradecerei por todas as bençãos. E peço que seja renovada a esperança em todas aquelas pessoas que necessitam de cura, que estejam sempre amparadas pelo anjo protetor e que possam gozar de plena saúde. 

Tenho me sentido muito emotiva, e a todo instante eu choro... Não de tristeza, mas de gratidão... Vejo que a tempestada já passou, e que ela nem foi tão devastadora quanto imaginava que poderia ser. 

Eu agradeço aos meus pais por absolutamente tudo, por serem quem são e por me darem de presente irmãos tão incríveis como os que eu tenho, por nos ensinarem sobre amor, união, compaixão, respeito, amizade, por me encherem de alegria em cada encontro. Creio que este ano tenha percebido o quanto minha família é importante e essencial.

Isso por que a minha fé é infinita!
Eu agradeço aos amigos que perto ou longe me mantiveram sorrindo, confiante e forte. Fico pensando como farei para retribuir todo o amor que recebi de cada um de vocês!

Sinceramente me faltam palavras para descrever tamanha alegria que sinto neste momento, estou viva, gozando de plena saúde e com forças renovadas para recomeçar. Não creio que a cura tenha sido a maior das bençãos que recebi, mas sim o próprio Câncer que me proporcionou mudanças necessárias, paisagens novas, óculos novos para se ver com clareza a beleza de viver. 

UM NATAL ILUMINADO A TODOS, REPLETO DE SAÚDE E ALEGRIA.




domingo, 1 de dezembro de 2013

Reflexões de um domingo qualquer...

“Curioso que ela nada saiba sobre si mesma. Quem sabe sobre a Morte são os vivos. A Morte, ao contrário, só fala sobre a Vida, e depois do seu olhar tudo fica com aquele ar de “ausência que se demora, uma despedida pronta a cumprir-se” (Cecília Meireles). E ela nos faz sempre a mesma pergunta: “Afinal, que é que você está esperando?” Como dizia o bruxo D.Juan ao seu aprendiz: “ A morte é a única conselheira sábia que temos. Sempre que você sentir que tudo vai de mal a pior e que você está a ponto de ser aniquiliado, volte-se para sua morte e pergunte-lhe se isso é verdade. Sua Morte lhe dirá que você está errado. Nada realmente importa fora do seu toque… Sua Morte o encarará e lhe dirá: ’Ainda não o toquei’”. E o feiticeiro conclui: “Um de nós tem de mudar, e rápido. Um de nós tem de aprender que a Morte é a caçadora, e está sempre à nossa esquerda. Um de nós tem de aceitar o conselho da morte e abandonar a maldita mesquinharia que acompanha os homens que vivem suas vidas como se a Morte não os fosse tocar nunca.” Rubem Alves em Que não seja súbita.

É a senhora Morte que tem me ensinado a esquecer, a perdoar, a desapegar, a entregar e a confiar...  E simplesmente ser detentora da minha fé, essa força que me guia e me ampara a todo instante.  Eu ainda sinto dores e tristezas, e continuarei sentindo... Aliás isso faz de mim um ser humano, com sentimentos sublimes e instintivos... Também sinto medo, o medo que me impede de seguir adiante, pode ser o mesmo que me protege contra um caminho que não devo seguir, e por isso resisto.

Eu reconheço que perdi um “bocado” de coisas em tempos de chuva, abandonei planos, sonhos, pessoas... E ao mesmo tempo isso me faz sentir pesar e alivio... Levo comigo somente as bagagens que me servem...  Talvez eu carregasse bagagens que não eram minhas... Pois agora decidi, carrego apenas as minhas e muito bem selecionadas...

Aquilo que me faz mal simplesmente não me serve...  E infelizmente descubro que pessoas podem me fazer mal... E ao invés de lastimar o tempo que me dediquei a elas, eu simplesmente mudo a rota...  E eu tenho mudado constantemente...

A ausência no blog, é exatamente por perceber essas mudanças... Os pensamentos mudam numa velocidade voraz, e subitamente eu me vejo com novos planos, novas idéias, novos amigos, novos amores, e novos desejos... Tem algo que não muda, apenas cresce... É a confiança em mim mesma. Ninguém e nada será capaz de me derrubar... Eu fui capaz de me curar, eu vi meu corpo esmorecer e tive forças para mantê-lo em pé, eu tive a coragem que nem todos teriam, eu senti dores no corpo e na alma, eu vi a Senhora Morte do meu lado esquerdo me seduzindo a todo instante. 

Pois agora, sei que ela está ali, e sempre estará... Pois em qualquer momento ela pode me tocar... E como bem diz Pai Caetano, “A vida é um estalar de dedos, e quando o coração pulsa é uma festa, por isso aproveite. E quando tiver que chorar, entenda que a lágrima é o sangue branco que precisa ser colado para fora.” 

Eu estou em festa e tenho muito que colocar pra fora ainda! Tenho aprendido a estar em silêncio, a escutar o eco que ressoa em meu coração e aceitar o que ele silenciosamente diz...  E às vezes ele diz que o melhor a ser feito é sair de cena, virar a página, ou mesmo fechar o livro... 

Tudo isso pra dizer a mim mesma que eu não tenho tempo nem energia a perder com mesquinharias, bobagens e infantilidades... Tenho milhões de novos planos  pra colocar em ação. 


“Dionísio é a imagem da existência imediata e da perdição total. Ele é o dançante embriagado, o ruidoso portador da alegria, mas também o Deus sofredor que, como um arado, resolve tudo o que enrijeceu e o que sobreviveu, preparando assim a terra para nova vida…” 
Bernhard Wosien em Dança um Caminho para a totalidade.



domingo, 3 de novembro de 2013

Minha fé, meu Rouxinol...

E mais uma vez palavras tão simples me tocam... Creio que o simples carrega o essencial... E foram nas palavras contidas na oração do Pai Nosso, que eu mais uma vez senti meu coração pulsar forte, minha respiração ficar profunda, e um imenso sentimento de amor e gratidão tomar conta de mim. Me senti viva e plena!

Estes dias ao ouvir tais palavras, me lembrei do dia da cirurgia a 9 meses atrás... Naquele instante estas palavras me trouxeram o conforto e paz necessária para saber que tudo ficaria bem... E hoje, estas mesmas palavras me enchem de vida... Me colocam a disposição de algo que é infinitamente maior do que Eu.

Creio que ter fé, seja isso... Estar a disposição do que é infinitamente maior... É confiar nos milagres, no invisível. E crer naquilo que está diante dos meus sentidos mais sutis, além do alcance dos 5 sentidos, algo que ultrapassa qualquer explicação lógica...  É como retomar o caminho de volta pra casa...  Plena de que os caminhos estão sempre certos... É compreender que se não hoje, amanhã talvez,... É estar disponível aos encontros e desencontros, e crer que os desencontros me preparam para encontros muito mais cativantes... Que aquilo que eu quero, pode ser medíocre diante da imensidão de quereres que o Universo possua pra mim.

Eu não delego meu futuro simplesmente a Deus, eu não entrego absolutamente nada a ele, nem a ninguém... Eu apenas tomo em minhas mãos o poder divino de confiar plenamente na luz que me guia... Assumo a responsabilidade de minha existência diante dos caminhos tortuosos que a vida me oferece... E reconheço o merecimento de todas as benções que tenho recebido...

Eu então, caminho em direção ao religare... Como bem diz Roberto Crema,”religare é uma religação da parte com o todo, do ser humano com a humanidade, a natureza e o grande sopro da vida, o ser que nos faz ser.”... Pretensiosamente, caminho nessa direção!

Feliz e grata pelo caminho que escolhi trilhar... Me sinto acolhida em um “C.E.U.  estrelado”, e amparada em todas as direções...  Por mais que os últimos dias tenham sido de inquietações, tristezas, dores, e sofrimentos... Eu compreendo que isso faça parte do processo... Me vejo agora sentindo todas as dores que não senti ao longo do tratamento... Elas não afetam somente meu corpo físico, que se encontra ainda frágil e delicado... Sinto as emoções a flor da pele e os sentimentos dilacerados... E um grande caos dentro e fora...

Mas confio que harmoniosamente tudo retomará seu eixo...
Minha fé, é meu “Rouxinol”….

“ Rouxinol tomou conta do meu viver 

Chegou quando procurei 
Razão pra poder seguir 
Quando a música ia e quase eu fiquei 
Quando a vida chorava mais que eu gritei 
Pássaro deu a volta ao mundo brincava 
Rouxinol me ensinou que é só não temer 
Cantou se hospedou em mim 

Todos os pássaros, anjos dentro de nós 

Uma harmonia trazida dos rouxinóis”


Rouxinol, Milton Nascimento.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Estou cansada...

“Brinco com a minha tristeza como quem cuida de uma amiga fiel…” Rubem Alves
Foto: Arnaldo J. G. Torres

Quando me perguntam como estou, a única coisa que consigo dizer é: "Estou cansada". Meu corpo resmunga e minha alma grita! Não são gritos de socorro e desespero, agora gritos de braveza, coragem, força e raiva... Sim raiva!

Eu tive forças o suficiente para combater as dores e não permiti que o sofrimento se alojasse aqui… Agora eu me sinto cansada e com raiva disso tudo! Eu fui capaz de me colocar em pé na linha de frente da batalha e guerrilhei com todas as armas que encontrei. Eu vi meu existir ameaçado, senti meu corpo sucumbir, suportei dores e incômodos, resiste bravamente e pouco resmunguei, não fraquejei e pouco chorei.

Pois agora que a batalha foi vencida, eu transbordo em lágrimas e desabo, sei que não serei mais atacada, acabaram as sessões de quimioterapia e radioterapia, e por isso meu corpo agora se lança no chão. E se for preciso aqui ficarei até reencontrar minhas forças!

Recebi alta médica, mas sinceramente ainda não sinto alegria… Sinto um cansaço na alma. Fui bombardeada por todos os lados, meu corpo está despedaçado. Não creio que repentinamente eu tenha ficado pessimista, e tão pouco me falte gratidão. Mas vejo que agora tenho uma visão realista do que vivi. Fico tentando mensurar o peso que carreguei, não sei… Mas sei que foi pesado e por questão de sobrevivência, não fraquejei! Essa resistência garantiu minha sobrevivência. Eu poderia ter desistido, e se quer ter lutado.

Mas eu lutei, e agora… Permitam-me por favor que eu chore! Deixe-me gritar, resmungar, xingar e até duvidar de Deus... Eu não posso aceitar com sorrisos de gratidão todas as dores que senti, seria uma atitude apática. Em algum momento eu precisaria questionar... Por que ameaçar a minha existência!? Logo a minha? Sinto que foi essa inquietação, que silenciosamente me gerou forças para lutar a favor da vida. Pois eu NÃO aceitei a condição imposta, eu NÃO me deixei ser vencida.

Estou entrando nos meus cantos, desapertando os nós, abrindo as comportas, me descobrindo, me reconhecendo, me aceitando e me libertando... Chorando e gritando, estou descobrindo o que restou... E talvez do que tenha restado, seja na verdade o que realmente Sou. 

E foi por tudo isso que escrevi, que me ausentei do blog… Fiquei exaurida com as sessões de radioterapia, é literalmente um bombardeio… Me senti e ainda me sinto confusa com a possibilidade de ter que retomar a vida… Não sei nem por onde começar… Parece que não restaram forças para recomeçar…

O sofrimento regado pela esperança, é o que dá sentido as lágrimas que escorrem pelo meu rosto neste momento, é sentindo essa dor que eu penso em coisas que de outra forma eu não pensaria. É parte de um processo para se criar um futuro novo. E como bem diz Rubem Alves, é como o sofrimento das dores de um parto que vêm pela alegria de se saber que uma criança vai nascer. 

Neste momento quero como companhia as palavras de Rubem Alves, Bernhard Wosien, Fernando Pessoa, a música de Ravel, Vivaldi, Bach, a vivacidade das flores, o canto dos pássaros, a leveza das águas, o calor da chama… E o movimento... Quero o movimento do ar entrando e saindo do meu corpo, do sangue circulando em minhas veias, do pulsar do coração… Quero apenas sentir o movimento da vida que existe em mim!


RTZB

"A Morte me informa sobre o que realmente importa… Não, não é nada mórbido. É que não temos opções. A vida é aquilo que fazemos com a nossa Morte. Ou a olhamos de frente e ela se torna amiga, ou fazemos de conta que ela não bate à porta, e ela entra noturna, pela porta da cozinha, para nos ir comendo em silêncio... Ás vezes ela chega perto demais, o susto é infinito, e até deixa no corpo marcas de sua passagem. Mas se tivermos coragem para a olharmos de frente é certo que ficaremos sábios e a vida ganhará simplicidade e a beleza de um haikai.”  Rubem Alves
Foto: Arnaldo J. G. Torres

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

" E vinte e nove anjos me saudaram..."

“Passei vinte e nove meses num navio
E vinte e nove dias na prisão
E aos vinte e nove com o retorno de Saturno
Decidi começar a viver
...
E vinte e nove anjos me saudaram
E tive vinte e nove amigos outra vez.”
 Legião Urbana

São 29 anos passeando entre vales, montanhas, cavernas, matas,... Dia e noite, sol e chuva, calor e frio, alegria e tristeza, dor e amor... É pouco tempo para quem pensou que pudesse não comemorar o dia de hoje... Pois é, eu pensei! Diante do paradigma do Câncer, dos medos, receios, dores, aflições, é provável que isso tenha passado por mim. Mas eu não alimentei a morte, e se quer lamentei as dores... Eu confiava e sabia que quando este dia chegasse estaria no fim do tratamento, e teria muitos motivos para comemorar.

E este dia chegou! Sem muitas palavras para expressar o que sinto. Posso dizer que uma alegria imensa em ter muitos motivos para comemorar, tenho uma vida plena e saudável, uma família incrível e amigos surreais!

Cantar parabéns ao som dos atabaques simboliza o encontro com o divino, sinto profunda gratidão por este momento. É sem dúvida, o inicio de um novo ciclo.

Agradeço ao Divino por me presentear com mais um ano de vida!
Agradeço meus pais, avós, bisavós, ancestrais por me presentear com a vida!
Agradeço aos amigos por compartilharem comigo alegrias e tristezas da vida!
Logo, agradeço a VIDA! Ela existe e habita em mim!

Continuarei dançando a vida... Serei plena em minhas quedas, recuperações, rolamentos, giros, saltos, sentimentos, dores, aflições, superações, alegrias, continuarei com força, coragem, determinação, confiança e fé... Muita Fé! 

RTZB
 
Eu, caçador de mim "
"Nada a temer

Senão o correr da luta
Nada a fazer
Senão esquecer o medo
Abrir o peito à força
Numa procura
Fugir às armadilhas da mata escura"


sábado, 31 de agosto de 2013

Voltando...

Tão difícil quanto sair de cena é voltar... Me sinto perdida! Tudo, completamente tudo mudou... E por que mudou eu não sei bem o que fazer! Me acostumei com gentileza, amor, solidariedade e carinho... E de repente, cadê tudo isso?

Aos poucos estou saindo de casa e retomando as atividades. Sem obrigação de nada, apenas pelo puro prazer de voltar... Deixando para trás a cama, os remédios, as sensações ruins e retomando a vida com um novo olhar!

E este novo olhar, tem me assustado... Vejo o que não via, sinto o que não sentia... Atitudes egoístas, olhares ofensivos, julgamentos desnecessários, energias densas... Fico me perguntando o que as pessoas fizeram com o amor... Por que não olhamos nos olhos? Por que falamos tanto e fazemos tão pouco? O ser humano se distanciou tanto, aponto de se perder de si mesmo!

Não sabemos quem somos, o que fazemos, onde vamos,...
E é por isso que vamos indo, sendo consumido pelo tempo, pelo dinheiro, e pelas atitudes aflitivas que temos para nos salvar de tanta inquietação... Inquietas ações que só aumentam as aflições.

Estou voltando e não quero me perder... A minha mente tenta a todo instante me levar pra bem longe, ela quer me distrair com impulsos negativos e desesperançosos. Quer me entristecer, me faz chorar, e tenta me fazer perder as forças. E por enquanto estamos em conflito, ora ela vence, ora eu domino. Recebi tanto amor, vivi tantas alegrias e senti tanta gratidão... Que não posso me perder por aí, preciso crer no amor fraterno, na solidariedade, na compaixão, na amizade, e principalmente no cuidado... Cuidar de si mesmo, estar pleno, para cuidar do outro!


É por isso, que continuo cuidando de mim...

RTZB 

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Prefiro dizer vida, ao invés de luto!

"Não basta existir, há que viver. Não basta viver, há que ser. Não basta ser, há que transparecer. Não basta transparecer, há que servir. E só então partir. Saciado de dias e de noites, de luzes e de sombras, de amores, tremores e louvores. Em paz, como um avô sorridente, descascando uma laranja para o seu netinho. Confiante, como uma criança inocente se jogando nos braços de sua mãe. É longa e paradoxal a caminhada de retorno à Morada da Essência, de onde jamais partimos..." Roberto Crema

Não sei se morte e vida são antônimos, mas sinto que caminham lado a lado... A existência de um valida a do outro. E se a morte me causa espanto, talvez a vida também... O que penso dela hoje? É uma possibilidade, como viver também é! Muitos vivem sem viver e outros morrem sem morrer, ficam livres em nossas lembranças e presentes em nossas quietudes.

E neste dueto de possibilidades, eu vi o Câncer dançar...

Um senhor me abordou na rua e sem rodeios veio logo perguntando “O Câncer também passou por você? Está curada?”, enquanto lhe respondia, seus olhos enchiam de lágrimas e por fim ele disse “Você me lembrou que devo comemorar meu aniversário, sofri tanto durante o tratamento de um Linfoma de Hodgkin, que prefiro esquecer, mas uns dias atrás fez um ano o transplante... Completei um ano de vida! Estou vivo e fico feliz em saber que também está.” Enxugou suas lágrimas e seguiu...

Hoje pela manhã, enquanto agradecia o dia e pediu pela cura de alguns amigos... Senti tristeza. Conheci por meio deste blog Viviane Peixoto, ela também estava em tratamento e certa vez me agradeceu por compartilhar minha história... O Câncer de Mama era comum a nós, conversamos muitas vezes sobre isso, trocamos dicas e afeto. Quando seu caso clínico se complicou, ela publicou um texto emocionante, dizendo da sua imensa vontade de viver, da força que encontrava nas dificuldades e sobre a certeza de sua cura.  Neste dia eu lhe escrevi agradecendo as palavras e dizendo que sentia grande afeto por ela, que lhe amava pela sua força e coragem, ela respondeu o mesmo. E então eu me lembro do Pequeno Príncipe:
...
- Que quer dizer "cativar"?
- Tu não és daqui - disse a raposa. - Que procuras?
- Procuro os homens - disse o pequeno príncipe. - Que quer dizer "cativar"?
- Os homens - disse a raposa - têm fuzis e caçam. É assustador! Criam galinhas também. É a única coisa que fazem de interessante. Tu procuras galinhas?
- Não - disse o príncipe. - Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?
- É algo quase sempre esquecido - disse a raposa. Significa "criar laços"...
- Criar laços?
- Exatamente - disse a raposa. - Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
- Começo a compreender - disse o pequeno príncipe. - Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...

Trecho de O Pequeno Príncipe, de Antoine Saint-Exupéry



Sempre que alguém diz: “Estou orando por você”, eu peço para que estenda suas orações a todos os que necessitam de cura. Eu vivenciei o tratamento de Câncer e sei quão intensa e dolorida este processo pode ser, há de se ter fé e confiança, pois muitas vezes parece que estamos piores... A cura vem pela dor, pelos incômodos e pelo tempo que se dilata na espera pelo fim.

Hoje a espera de Vivi chegou ao fim, creio sim que foi curada e que este momento significa apenas uma passagem...

Morte e vida, possibilidades conjugadas pelos verbos, estar e passar... Que encontram sua unidade em SER. E assim também é o Câncer... Triste e emocionada pela passagem de Vivi, mas profundamente tocada e grata pela sua presença em minha vida.

Me resta dançar a vida, já que por aqui este tal de Câncer dançou!

RTZB

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Um final sempre é um novo começo...

Fim dos ciclos de quimioterapia, e com isso fim das sensações estranhas e malucas, das dores pelo corpo, do mau estar, e finalmente da eliminação do corticóide, que me fez engordar quase 10 kilos (rs)...

Este momento representa o fim de muitas outras dores, incômodos e frustrações, e tudo aquilo que não me serve mais com certeza vejo ficando para trás... E agora pelos meus cabelos vejo o novo nascer, e desejo sentir novamente a sensação de bem estar e saúde plena.

Rosas de Luiza Gentile.
Em cada sessão de quimioterapia, eu ganhava uma rosa de uma amiga e vê-la desabrochar ao longo dos dias, era como se a partir dela eu pudesse também adquirir a capacidade de desabrochar... E agora, no fim, ganhei a rosa que mais se abriu... Não vejo como um mero acaso... Nós nos abrimos juntas!

Na última sessão, o dia fluía como se algo mágico estivesse acontecendo... E estava! Eu tinha dentro de mim um desejo enorme de festejar e comemorar, de gritar, chorar e de estar próximo de quem esteve comigo estes meses todos... A única coisa que consegui pedir, foi para que a amiga que me levou na primeira sessão, me levasse na última... E desta forma eu daria por encerrada esta fase... “Missão dada é missão cumprida!” (rs)... Mas...

" Nenhum caminho é longo demais...
Quando um amigo nos acompanha..."
( My God is my Life) 
Eis que o inesperado acontece... Quando entro no quarto, deparo com as Jows... Mulheres “Jowtromundo”... Quase todas me acompanharam nas sessões de quimio, elas revezavam entre si e entre meus familiares... E neste último dia, estavam todas lá... Com bexigas coloridas e champagne... Era a festa que tanto queria... E foi o susto mais incrível que já tomei, e um dos momentos mais especiais de toda minha vida... Não só pela surpresa, mas por terem concretizado tudo o que estava sentindo... Alegria, gratidão, amor e muita união! Chorei de alegria, tremi igual vara verde e sentia meu coração saltando pela boca! (rs)...

Não só dançamos nos palcos da cidade, como também dançamos nos palcos da vida... E este foi o melhor espetáculo dos últimos tempos!

Enfim... Hoje me sinto mais leve, confiante e sem dúvida mais feliz... Vejo que ao longo destes meses deixei algumas malas no meio do caminho, embarquei em uma viagem sem destino...

Agora um novo ciclo se inicia... Seja bem vindo!

                                                                                                                                                                                                                                     RTZB

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Inesperado...

Houve um tempo em que eu programava cada segundo do dia... Me irritava acordar e não saber a ordem das coisas, ficava aflita! Eis que aparece o tratamento na minha vida, me lembrando, que não há planos ... O segundo seguinte foi e sempre será uma grande incógnita... Descobri que o dia é simplesmente um infinito imenso de possibilidades! E ultimamente tenho me entregue a este infinito, que na verdade é um grande vazio... Me sentindo plenamente em cada segundo do dia vou colhendo os bons frutos de cada instante... E descobri que é muito mais divertido não saber o que vai acontecer... Eu tenho obviamente alguns compromissos, e uma certa rotina estabelecida... Mas os buracos "vazios"  são os que colorem o dia! 

Templo Zu Lai
É se permitir encontrar um amigo no banco e ali ficar sem pensar nas horas... Receber um convite para um simples almoço e perceber que na verdade está indo passar a tarde em um Templo Budista belíssimo... Pular de alegria quando um amigo que praticamente mora do outro lado do mundo, quer lhe encontrar e você estar totalmente disponível pra isso... É receber visitas inesperadas, presentes coloridos, simbólicos e sagrados!

E então os buracos vazios são preenchidos assim... De forma surpreendente!


segunda-feira, 22 de julho de 2013

Para quê?

Sinceramente não me interessa saber o por que eu recebi um diagnóstico de Câncer de Mama, eu sei da minha responsabilidade nisso, entendo que minhas atitudes e pensamentos promoveram isso em minha história, mas neste momento não quero saber o que me levou a viver isso... Também entendo que existem situações que temos que vivenciar nesta existência, pois um acordo fora feito antes de aqui chegar... Então senão há como fugir ou negar, há de viver em plenitude seja lá o que for!

 
Digo com isso, que hoje me interessa saber o que farei a partir de agora... Com todas as reflexões e mudanças, adquiri outros olhares, pensamentos, e até outras perspectivas. A questão é exatamente essa, o que fazer?

Os caminhos agora são outros, não posso crer que tudo será como antes... Pois não será! É disso que pretendo me ocupar neste momento, vislumbrar estes caminhos e construir uma nova trilha...


Um passo de cada vez, mas sempre avante!
RTZB
♫♪ Todos os Caminhos - Lenine ♫♪

"...Por tudo que eu andei
E o tanto que faltar
Não dá pra se prever nem o futuro
O escuro que se vê
Quem sabe pode iluminar
Os corações perdidos sobre o muro
E o certo que eu não sei o que virá
Só posso te pedir que nunca
Se leve tão a sério, nunca
Se deixe levar que a vida
A nossa vida passa 
E não há tempo pra desperdiçar..." 

domingo, 14 de julho de 2013

Luz...

Odeio sentir apatia... Odeio sentir a ausência da vontade... Odeio não sentir prazer... Odeio me ver jogada sentindo ausências e tristezas... Frustrações e desencantamentos... E quando isso acontece, meu único desejo é de fazer tudo sumir em instantes... Tudo se apagar para quem sabe clarear... E quando sinto um aperto no peito e um nó na garganta, é quando tudo transborda... E eu sinto a dor da angustia que me prende nesta apatia... Nula ação... E quase uma anulação de mim mesma... Uma negação dos sentimentos mais medíocres... E a não existência de ação... Eu espero tudo se apagar... Eu desejo que tudo se apague.


RTZB



quarta-feira, 10 de julho de 2013

Reencontrando...

Pois eu me rendi, depois de alguns dias fingindo estar bem... Me entreguei aos cuidados de uma boa cama, remédios e alguns bons filmes! Meus planos eram de voltar as atividades físicas, dançar, e retomar uma rotina cada vez mais distante de casa... Apenas me esqueci que planos são feitos para não darem certo, e cá estou... Me recuperando de um resfriado e uma sinusite, como diria meu pai "frescurite aguda". 

Não tenho me lembrado do Câncer, e quero cada dia mais me distanciar desta tormenta... E o fato de ver o fim do tratamento, me enche de vontade e desejo de voltar a ter uma rotina sem tantos cuidados e medos... Mas ver o fim, não significa estar no fim. E talvez essa seja a minha grande frutração hoje, me senti saudável e fiz planos... Que não se concretizaram.

Meu corpo novamente pediu quietude e repouso... E por mais que este não seja meu desejo eu lhe dei voz... E me aquietei. Alguns dias sob o cuidado e zelo de um bom chá quente, me farão bem. 

E por mais que paciência me falte, por mais que eu diga "não aguento mais", e implore o fim logo... Este momento é só parte de um longo e intenso processo de mudança. Aquisição de novos valores, novas metas, um jeito talvez dolorido de encontrar o caminho do meio e de quem sabe ser quem eu poderia ser.

Tenho me esquecido de agradecer... Quando vejo amigas em tratamentos tão mais doloridos que o meu e quando percebo meu egoísmo diante disso tudo... Me entristeço. Não devo me importar tanto assim comigo, acabo transformando um simples resfriado,  em uma sinusite, uma tosse barulhenta e uma voz afônica. 

Talvez eu queira chamar atenção de todos com o meu barulho, simplesmente para que olhem para mim... Pois nada consigo dizer. 


                                                                                                                                                                                                                                    RTZB

Em repouso... Em silêncio. Reencontrando a paz!

sábado, 6 de julho de 2013

Eterno pulsar...

Em alguma das lindas praias do Espírito Santo.
 
A  vida é um eterno pulsar, um movimento constante de contração e expansão... As vezes me encontro tão dentro de mim, que desfruto de adorável companhia, da graça e a beleza de ser e estar onde estou... E instantes em que preciso desfrutar de outras presenças, companhias, lugares,... Compartilho com o outro tudo aquilo que encontro dentro de mim. Melhor do que julgar o que é certo ou errado estar dentro ou fora, é sentir e perceber esta constante pulsação...

Eu preciso me descobrir cada vez mais para desfrutar deste pulsar... É um eterno entrar e sair... Lido com inquietações, tristezas, frustrações, ansiedades que parecem estar fora... Preciso adquirir sabedoria para lidar com tudo o que vejo, que são apenas reflexos daquilo que existe dentro de mim.
 
Estes dias pensei que houvesse me perdido, que tivesse me distraído com tantas saídas de dentro... Me julguei, critiquei, e me frustei. Até perceber este pulsar... Este ir e vir...
 
RTZB
 

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Despir...

Se colocar a disposição das descobertas é uma tarefa que requer coragem, é confuso e dolorido. É descobrir quais armas falsamente me protegiam e quais máscaras me esconderam estes anos todo. Eu percebi que somos todos orientados pelo sistema, e convencidos a nos esconder cada vez mais dentro de si e por isso nos perdemos de nós mesmos.

Não choramos o quanto gostaríamos e se quer percebemos o que sentimos, nossas emoções são distraídas e acabam se perdendo mundo adentro e mundo a fora; nossas responsabilidades recebem o nome de culpa, de si mesmo e do outro, e assim um peso vai se instalando em nossos ombros; nossas dores são disfarçadas com remédios; nossas crianças distanciadas de suas infâncias; a mídia nos contamina exarcebando o caos e nos convencendo de que o consumismo é a salvação; vamos nos tornando cada vez mais cegos a nós mesmos, esquecemos quem somos, de onde viemos e para onde vamos...

Precisamos resgatar nossa história... Somos pó estrelar, viemos das estrelas e pra lá retornaremos. Somos em essência seres de luz! Mas sinto que podemos nos perder em nossas próprias sombras... E olhar para elas é um ato de coragem, e creio que seja a minha rendição.

Me render no sentido de abrir mão do controle em busca da perfeição e assumir humildemente minhas fragilidades, crenças e paradigmas! Desejo me livrar da armadura, quero me despir dos disfarces, aceitar a condição de ter me servido disso tantos anos, mas em tempo hábil de seguir mais leve e livre...


Descobrir-se quem se é, é um processo lento e de uma existência toda. Mas compensador pela beleza e graça de aceitar-me como sou, perfeita em minhas imperfeições! Isso tudo pode ser utópico, mas é o caminho por onde desejo seguir... Em minha utopia sigo acompanhada de seres de luz, guias e mestres desta e de outras dimensões.

Sigo nua em meus cabelos, fortalecida pela minha própria dor, grata pelos encadeamentos felizes, e exercitando cada vez mais a paciência e buscando desfrutar de minha plena presença sem julgamentos, ansiedades e medos. Não digo ser uma simples tarefa, mas talvez a única que me fez sentido até agora. 



sexta-feira, 7 de junho de 2013

Fogo Sagrado

Hipnotizada pelo fogo sagrado, eu reverencio sua beleza e magnitude... Agradeço aos seres da natureza, aos mestres, e me sinto acolhida no círculo de proteção criado. Reconheço em minhas veias a possibilidade de aquecer meu sangue e animar minha apatia, dando lugar ao prazer e a alegria de Ser.

Mas houve um dia em que a apatia se instalou, horas e horas se passaram, e eu perdi por um longo tempo a vontade de reagir... Sucumbi a mim mesma, e tudo por valores e verdades ordinárias, onde o outro esteve em minhas projeções e desejos... Grandes frustrações.

Este estado se transformou no dia em que recebi o diagnóstico - Câncer de Mama. Passei a dedicar os dias a mim mesma, ao meu processo de cura. Assumi um compromisso fiel e amoroso comigo mesmo, e aos poucos venho descobrindo as minhas capacidades e talentos, a minha força interior, a minha beleza natural, os meus sonhos e desejos, os meus valores, e também crenças e paradigmas impregnados em mim, e com tudo isso tenho vivido talvez o melhor dos romances que já tive, eu comigo mesma! Amando e respeitando, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na vida e na morte, e o que Deus uniu, homem nenhum separa.

"Luz é emanação, sombra movimento e escuridão estagnação." RTZB


quinta-feira, 6 de junho de 2013

Borboletando...

Qual outra expressão fazer além de sorrir, quando uma borboleta cruza seu caminho em um vôo sublime frente aos seus olhos?

terça-feira, 4 de junho de 2013

Eu me rendi...

... Simplesmente me dando conta que eu não comando os passos... O controle escorre pelas minhas mãos.

Me lembro o dia e o exato momento em que no meio de uma oração eu chorei quando disse “… seja feita a vossa vontade…”, neste momento eu tive a plena consciência do que isso significa. Foi na noite anterior a cirurgia, que orando eu compreendi que nada podia fazer além de confiar e ter fé, e então me rendi...

Entreguei a minha existência nos braços do Universo e nas mãos abençoadas de Deus que guiariam a cirurgia e fariam acontecer exatamente aquilo que deveria acontecer, da melhor forma, do melhor jeito, para o meu aprendizado e para a minha evolução, não somente para o meu bem estar ou ego. E assim foi, diante das graças deste entendimento e de acordo com o meu merecimento, o melhor segundo as leis divinas foi feito. E desde o inicio do tratamento, tudo tem fluido em perfeita harmonia, sem nenhuma complicação e sinto que a pior fase já foi, agora é paciência, clareza e foco por que o fim está chegando.


“Seja feita a vossa vontade, e do encontro entre o céu e a terra, o presente seja uma dádiva. Que perdoando eu seja perdoada, e que possa primeiramente me perdoar de todo sofrimento que causei a mim mesma, de todas as dores que permite acontecer… Não me deixes ser dominada pelos meus pensamentos, não me deixes ser dominada pelas minhas sombras, não me deixes cair nessa tentação e sele a porta onde mora o mau. Esteja eu sempre protegida pelo meu anjo da guarda, pelo meu guia espiritual, por todos os mestres ascensos, todos os seres de luz que me acompanham nesta caminhada. E quando digo Amém, eu quero dizer gratidão.”

RTZB



quarta-feira, 15 de maio de 2013

Caminho das Águas...

UNIPAZ DF- Granja do Ipê, Brasília






Me sinto devorada pela minha própria beleza, não esta refletida em águas narcizistas que denunciam um sorriso encantador e olhar sublime... 

Devora-me a vulnerabilidade das águas, as mudanças, a capacidade de se entregar as correntezas sem resistências... Polindo pedras, nutrindo matas, reverenciando flores e borboletas...

Seja eu a queda de uma cachoeira, que se lança no espaço vazio infinito, sem medos e receios... Que em trajetos estreitos e sinuosos, segue sem indagar... E no caminho, contempla Sol, chuva, ventania,... 
E que da nascente, jamais se esquece...

RTZB


"... caminho bordado a fé
caminho das águas
me leva que quero ver meu pai..."