quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Que venha 2015!

Terminei o ano de 2013 certa de que sou mais forte do que imaginava, certa de que minha fé é infinita e de que milagres acontecem, certa de que meus pais e meus irmãos estarão sempre comigo, aconteça o que for eu estarei do lado deles, mesmo que estejam errados (rs). Certa de que companheiros de estrada existirão sempre, eles vão e vem o tempo todo, cada um no seu tempo e do seu jeito trazem uma palavra, um sorriso, um abraço, nos enchem de amor e alegria, mas seguem seus caminhos. E assim também são os amores, vão e vêm, mas vamos combinar que não há desamor, que mesmo quando eles se vão o amor continua ali, muda de lugar e de jeito, mas continua sendo amor. Gosto mesmo é dos amigos de estrada, estes serão poucos, daqueles que apertarão a sua mão quando o mundo desabar, daqueles que estarão firmes ao seu lado quando você soluçar de tanto chorar, mas também são aqueles que estarão ao seu lado quando você não precisar, estarão ali simplesmente por estar, para um papo furado ou um papo cabeça, para uma gargalhada ou uma cachaça, nas horas ruins ou boas eles estarão lá, acompanhando cada passo dado, que pouco importa se foi pra frente ou pra trás, estarão sempre perto, mesmo que distantes. Bom deve ser quando se encontra um amigo assim que transborde de amor, alguém inteiro de si que não venha para preencher os vazios, mas para dar sentido a todos eles, não sei você, mas digo por mim,  não preciso de alguém que  me complete, preciso é estar inteira de mim mesma, e só assim duas almas plenas poderão se encontrar. Metades não me valem, poucos não me bastam, quero muito, quero inteiro, quero pleno. Quero viver cada segundo da minha existência,  recebendo com gratidão todas as oportunidades, e aceitando com fé e coragem todas os desafios. Quero deixar o meu legado, seja ele um movimento, um suspiro, e por que não um sorriso, quero viver com a força de quem bate no peito e se entrega a escuridão das sombras e ao encanto das luzes. Creio que 2014 tenha sido isso tudo, um misto de alegria e tristeza, alegria por estar plena de saúde e tristeza por olhar para trás e lembrar das dores que senti. O que eu mais agradeço neste ano é poder sentir a vitalidade pulsando em meu corpo, só assim posso caminhar em direção dos meus sonhos. É... sem perceber em 2014 realizei uma porção deles, estabilidade financeira, apresentações, viagens e até temporada no SESC. Quando vi havia criado, dirigido e produzido um espetáculo, e sem perceber realizava o desejo de dar aula de dança para os adultos... Chego a conclusão que 2014 foi um ano generoso comigo, retribuiu em dobro tudo que 2013 parecia ter tirado de mim... Eu ganhei cabelos encaracolados que para mim simbolizam o processo de transformação e renovação da vida, o movimento incerto dos cachos me dizem que o que parece estar fora do lugar, está na verdade é no lugar que deveria estar... Não há certezas, não há formas, não há verdades absolutas, e se quer controle... Há movimentos soltos e livres, mas que dão a verdadeira graça e beleza aos cachos que balançam no caminhar desta moça que tem apenas um desejo para 2015: Estar plena.


terça-feira, 23 de dezembro de 2014

"Nada disso é em vão..."

Dezembro é um mês de lembranças... O mês em que vi minha vida virar do avesso... Perdi todas as certezas, mudei todos os planos e aceitei tudo que poderia vir... E o que aconteceu depois disso?! Bênçãos e alegrias... E isso só aconteceu por que eu me propus a não desistir mesmo querendo em alguns momentos. E foi assim... Foi superando uma doença que vi todos os meus medos se tornarem pequenos. Foi quando percebi que o bom da vida é o risco... Viver é mesmo muito arriscado! Eu perdi o medo de altura, de gatos, de escuro, e até da solidão. Sou minha melhor companhia e tenho em meus pensamentos os melhores desejos, que aos poucos estão se realizando. Circulei com um espetáculo independente, fiz os cursos que desejei, viajei,trabalhei em lugares incríveis, com pessoas mais incríveis ainda. Sou pura gratidão, estou vivendo... 





"Viver, viver e ser livre
Saber dar valor para as coisas mais simples
Só o amor constrói pontes indestrutíveis "
Beco sem saída - Charlie Brown Jr.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Tentando me compreender...

Não sou sempre feliz como muitos dizem, tenho tantas lágrimas quanto sorrisos em meu rosto. Sou simples no jeito de ser, gosto de gente sincera, honesta e generosa. Não tenho pessoas especiais ao meu lado por que tenho sorte, mas por que eu as busquei e permiti que ali ficassem. E também não tenho sorte por ter um trabalho incrível, mas por nunca ter perdido o foco e a determinação. Não sou guerreira, nem vencedora e muito menos iluminada, apenas utilizei a capacidade que todos temos de superar os próprios limites, de caminhar com fé, amor e coragem... Chego a conclusão de que estaremos sempre só! É verdade que muitos me acompanharam quando mais precisei, mas a verdade é... Sou responsável por caminhar, por escolher o percurso, por errar ou acertar, por seguir ou parar... Não há quem faça por mim! Perdoo o que há perdão, e esqueço o que não há... Não julgo e não reclamo, aceito com gratidão tudo o que vida pode me oferecer, transformo as dores em amores, as pedras em flores... Eu confio no mistério do vazio que tantas vezes sinto dentro de mim, sei que ali existe infinitas possibilidades de criar absolutamente tudo que desejar.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Além de mim mesma...

As pessoas insistem em dizer que sou vitoriosa...  E eu sei que sou! Quando olho para trás e vejo o que fui capaz de suportar, eu realmente me sinto assim... Sei o quanto tive que ser forte para não sucumbir, usei todas as armas que encontrei pela frente, me vesti com armaduras e parti para a guerra. Mas isso não faz de mim alguém especial, iluminada, evoluída,... Apenas uma menina que se transformou em mulher e aceitou os desafios que recebeu. Essa capacidade de vencer, todos temos. Eu apenas reconheci essa força e a usei... Essa força é a mão divina tocando o coração e enchendo-o de vontade de viver.

Eu não era assim... Eu não me sentia em paz... Virginiana, perfeccionista, cheia de manias e chatices, insegura e frágil... Se eu mudei? Não! Continuo sendo virginiana, perfeccionista, cheia de manias e chatices, insegura e frágil... Mas agora respiro fundo, confio naquilo que não posso ver, me aceito como sou e cuido de mim. Sei o que me faz bem, e também o que não me faz... Penso primeiro em mim. Egoísmo? Para alguns, talvez! Para mim, amor incondicional a vida que habita em mim!

Quando não se tem medo, a vida se torna uma grande aventura... Eu achava que minha vida ficaria estagnada, é verdade que ela parou por um período. Foram meses pensando o que de fato eu queria da vida... Quais eram meus sonhos? Eu havia me esquecido deles, precisava desta pausa para relembrá-los... O que perdi neste tempo!? Apenas um quadrante da mama, por que todo o resto eu ganhei... Sonhos e desejos renovados, cabelos encaracolados, determinação, confiança, fé e alegria.

Sabe... Eu vejo todos os dias as cicatrizes que o Câncer deixou em mim, marcas que levarei por toda a vida, e que não me fazem menos mulher, nem menos bonita, apenas diferente. É exatamente neste diferente, que eu reconheço a minha real beleza e o meu verdadeiro valor, que não está na estética de um corpo perfeito... O corpo mudou... É isso, a matéria mudou, mas o que existe dentro não... Sei que sou muito mais do que cabelo e peito. É fato que nunca fui muito vaidosa, mas confesso nunca me senti tão linda quanto nos dias que estive careca, eu finalmente me reconhecido como mulher.


Eu tive Câncer de Mama aos 28 anos e não sei quando essa história se tornará passado, ela é viva e presente em meus dias, me faz pensar e principalmente agradecer a saúde e a vitalidade em meu corpo e agradecer o quanto generosa a vida têm sido comigo me presenteando com momentos encantados ao lado de pessoas especiais. 

Com Iara Odete.
Foto de Marion Caruso

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Inquieta,

Tenho me perguntado por que as palavras não mais conseguem expressar tudo aquilo que sinto... Continuo tendo reflexões, questionamentos e insights, mas que não conseguem voar... Talvez as palavras tenham se transformado em movimento, já que agora voltei a dançar e tenho dito com meio corpo aquilo que desejo.

Sabe um daqueles livros que tocam no fundo da alma e que precisam ser lidos muitas vezes ao longo da vida? Para mim “O Pequeno Príncipe” é um desses, leio, releio, revivo e vivo... E cada leitura me transforma e me transborda, me faz olhar um mesmo ponto de diferentes formas. É desta forma que sinto ser o Câncer em minha vida... Um livro que me devorou pelas entranhas, me remoeu por dentro e me transformou. Desejaria esquecer tudo que vivi e senti, mas esta história é a minha história, e não há como esquecê-la, está presente nas marcas que deixou em meu corpo, nos sintomas poucos, mas que ainda existem, e principalmente nos detalhes, como ver o cabelo crescendo. 
É um daqueles livros que terei em minha memória para sempre... Hoje, me sinto saudável e tenho a obrigação de agradecer e valorizar este bem tão precioso, a saúde. Muitos renegam o próprio corpo, o maltratam, o intoxicam, sem ter a consciência de quantas pessoas enfermas desejam estarem apenas saudáveis. 

No final de 2013 eu ouvia muito uma música que dizia “E quando cessar a tempestade e vislumbrar novo amanhã.... Que é força e coragem pra seguir viagem. Filhos que têm fé...” Eu me lembro do quanto desejava que dias como os de hoje chegassem, dias em que eu estivesse trabalhando, aprendendo e descobrindo cada vez mais sobre mim, sobre o ser humano, sobre a vida, sobre a dança... Eis então, que hoje me vejo assim...

Sem medo cai no mundo.
Na brisa que faz rodar.
Toda dor do meu passado.
Sorrindo quero dançar. 

E para minha alegria, tudo que foi desejado em relação ao trabalho "Inquieta Razão" têm acontecido, sinto que bons ventos sopram a favor, digo que reviver essa história não é uma tarefa fácil, mas necessária. Então, é sem medo que eu sigo dançando e cumprindo com a missão de transformar toda dor que senti, dizendo a mim mesma o quanto este processo longo e intenso deve ser olhado com respeito e gratidão, por todas as mudanças que aconteceram em mim a partir dele, por toda a coragem e fé que hoje existe em meu coração, por todas as pessoas que estiveram ao meu lado, pela força que hoje me impulsiona a seguir e principalmente pela alegria que sinto, simplesmente por estar viva.

"Aquele que nunca viu a tristeza, nunca reconhecerá a alegria." (a.d.)

Tenho realizado um sonho. Eu sonhei este espetáculo, tudo que hoje acontecesse já havia acontecido em meus pensamentos... Essa semana o sonho se completará com a apresentação no SESC, onde terei comigo a médica Thais Kubota, a doutora que sensivelmente me deu o diagnóstico, ela não apenas irá assistir como também participará de um bate-papo com a platéia no final. 

Só posso agradecer, por essa e tantas outras oportunidades incríveis que tenho recebido!


 


quarta-feira, 8 de outubro de 2014

domingo, 20 de julho de 2014

Descobrindo a amizade...

Dizem que hoje é dia do amigo, eu até sinto vontade de lamentar os amigos que perdi nestes últimos meses, de dizer o quanto me decepcionei, mas meu tempo é muito precioso para reviver essas dores que não merecem minha atenção... Dedico este dia então, aos meus poucos e verdadeiros amigos, aqueles que perto ou longe estiveram e estarão sempre comigo. E registro aqui uma das histórias de amizade mais belas que já vivi. 

9 de setembro de 2012, era uma manhã ensolarada de domingo, estava no Parque do Ibirapuera onde acontecia o Festival Mundial da Paz, eu havia acabado de completar 27 anos de idade e recebia de presente a oportunidade mágica de participar de algo tão incrível, passei 4 dias de festival cuidando da Tenda da Alegria, nela aconteciam apresentações de música, teatro e dança.

Trabalhando no festival, consegui assistir apenas uma apresentação e escolhi as flautas encantadas de Daniel Namkhay. Antes de me acomodar avistei de longe uma menina, aparentemente debilitada e frágil, usava máscara, chapéu, pele clara e magra. Sentei em seu lado, e neste precioso momento eu vi nascer a história de amizade mais linda que já ouvi... Ela se emocionava ao som da música, e eu também. Nos demos as mãos e choramos juntas. No fim de tudo, trocamos algumas palavras, ela quis saber do festival e eu de sua história.

Priscila Kiffer, uma jovem linda e cheia de vida, capixaba, falava com amor de seu filho e de sua família e amigos. Visitava São Paulo para restabelecer sua saúde, faria em poucos dias o transplante autólogo de Medula. Pediu-me indicação de apartamento para sua família ficar enquanto estivesse internada, eu imediatamente ofereci minha casa. Diz ela que me achou muito maluca, e obviamente recusou o convite. (Rs)

Ficamos em contato, trocávamos mensagens de celular e pude acompanhar de longe (mas muito perto) seu tratamento e sua recuperação. Estava com alguns amigos almoçando quando recebi a notícia de que a medula havia “pegado”, brindamos sua nova vida.

Durante os meses de seu tratamento em São Paulo eu entrava constantemente em seu facebook para ver suas fotos, via imagens de antes do tratamento, eu ficava horas e horas refletindo sobre essa doença, como podia transformar as pessoas daquela maneira? Buscava uma explicação, me questionava, e confesso que não entendia. Algo dentro de mim se revoltava e sentia não ser justo uma mulher linda e saudável, como aparentava nas fotos viver aquele sofrimento todo.

Dias depois eu entendi... Era dezembro, e Priscila já havia retornado para Vila Velha quando me ligou dizendo que agora, depois de perceber que não sou tão maluca assim, ela aceitaria o convite para pousar em minha casa em janeiro, pois retornaria a São Paulo para consulta médica. Disse que talvez pudesse estar internada... Ela assustada questionou e eu contei... “Acabei de receber o diagnóstico de Câncer de Mama”, lembro que ficou em silêncio, se indignou e chorou, mas em poucas palavras me contou o que aconteceria, o que teria que fazer, e de uma maneira forte e decidida disse que estaria sempre ao meu lado. Foi aí que eu entendi por que olhava suas fotos, por que me questionava, e por que naquela manhã de setembro eu sentava em seu lado.

Naquele aniversário eu ganhei uma amizade sincera e de um amor incondicional. Hoje depois de tudo que passamos juntas, posso dizer que foi neste encontro que eu vivi uma verdadeira relação de fraternidade, compaixão, companheirismo, amor, alegria, união e sobretudo paz.

E foi assim em 2013... Eu em tratamento e ela também, precisou retornar as sessões de quimioterapia e recebeu a notícia de que precisaria de um novo transplante, agora de um doador.  Mas nem por isso deixamos de viver juntas momentos de imensa alegria, entre uma quimioterapia e outra, peguei o avião e aterrissei em Vila Velha, era aniversário de Priscila e uma festa linda aconteceria, família encantada, amigos lindos e muita cumplicidade, afinal de contas estávamos com as mesmas limitações (rs), cansávamos facilmente, não podíamos entrar no mar, nem sair, nem beber, mas... Podíamos sim agradecer a vida apenas pelo fato de estarmos vivas e juntas, a sabedoria Divina que rege nossas vidas nos uniu. Meses depois, era ela quem aterrissava em São Paulo para o meu Sarau de aniversário, veio acompanhada do filho e de duas amigas, nos divertimos, passeamos por São Paulo, acordávamos dando gargalhadas e assim ia até o final do dia, e mais uma vez agradecíamos por estarmos juntas.

Já em 2014, eu tive alta e ela retornaria a São Paulo, pois um anjo havia lhe enviando um doador compatível. E durante todo o processo do transplante estive contigo, eu e toda minha família se mobilizando para ajudá-la, afinal de contas agora ela fazia parte da família também. Eu confesso que ir visitá-la não era uma tarefa fácil, entendia parte de seus incômodos, e sentia no fundo da minha alma as suas dores. Eu respirava fundo, pedia ajuda a Deus e entrava em seu quarto, e lembrava de como as pessoas se comportavam ao irem me visitar, e fazia com ela aquilo que fizeram comigo, lhe contava causos, fofocas, coisas engraçadas,... Foi o que fiz, mesmo com o coração apertado, eu me enchia de amor, alegria e ia visitá-la.  Sempre que via uma paisagem bonita eu fotografava e enviava para ela, sei que não via a luz do dia a muitos dias e tampouco percebia a beleza que a esperava do lado de fora.

Hoje, ela está curada e eu também. Somos amigas, irmãs, cúmplices e parceiras. Com ela aprendi que amizade é isso, um encontro repentino cheio de sentido, que enche os corações de amor e alegria, que nos faz crer na presença Divina, que não há nenhuma relação com o ou espaço, ela lá e eu cá, nos vemos poucos, mas nos sentimos a cada pulsar do coração.


“A arte de sorrir cada vez que o mundo diz não...
Você verá que a emoção começa agora
Agora é brincar de viver”



sexta-feira, 4 de julho de 2014

É amor...

Algo mudou em mim e "A culpa é das estrelas", tomei coragem e fui assistir o filme. Chorei do início ao fim e não apenas por me reconhecer em muitos momentos, mas principalmente por ver uma linda história de amor acontecer, talvez a mais linda que já vi...Vi dois lindos jovens falando da vida e do amor com muita sabedoria e maturidade... Fiquei eufórica, feliz e grata sem saber por que, sinto que algo que estava preso aqui dentro, criou asas e vôo... 


Houve quem disse “EUREKA”
Há quem diz “a ficha caiu”
Ou simplesmente “entendi”...
Todas essas expressões remetem a um único sentimento...
O sentimento de ver uma linda flor desabrochar.
É ter a sensação de criar asas e voar.

Entendi por que estou aqui....
Entendi por que adoeci...
Entendi como me curei...
Entendi o que desejo...

Não que me faltassem asas...
Eu até as tinha...
Mas o medo era tanto...
Que os vôos eram sempre rasteiros...

Não entendi ainda o medo,
Mas sinto ele se dissolver...
Não entender não quer dizer não sentir.

E o que parece estar velado em minha alegria,
Ou entre tais linhas e palavras,
É o desejo simples e puro de amar...
E ser amada!

Me perdi em tantos amores...
Amedrontada.
Senti esses amores como imensos labirintos.
Houve aquele que desejou a morte...
Aquele que não a desejou, mas parecia sucumbir a própria vida...
Houve ainda quem apenas me despertou para o desejo...
E aquele que por anos me prendeu em uma gaiola...
Em todos eles eu vivi a alegria de estar junto...
De desfrutar do prazer e do desejo,
Da doce companhia e da amarga despedida.

Pois agora eu entendi...
Entendi que desejo apenas um amor de asas ...
Que voe cada vez mais alto...
Que alcance as estrelas...
Que me liberte para a vida...
E que tampouco sinta desejo e prazer...
Mas que sinta a plenitude da entrega...
Que encontre o uno em dois...
Que seja um dia três, quem sabe quatro.

É tudo tão obscuro nas palavras,
Como se a verdade tivesse que ficar velada em mim,
Ou como se a verdade não pudesse ser lida por alguns...
Mas está dito, leia quem tiver que ler...

Sinto apenas o desejo de amar e ser amada.
E se depois disso partir,
Partirei plena de uma vida vivida em plenitude.
Pois não há outra coisa a se fazer neste mundo que não seja amar.


terça-feira, 17 de junho de 2014

Em marcha...

Como dizem alguns amigos... Em marcha e avante! E assim vou seguindo. Intuindo. Percebendo. Confiando. Caminhando. Agradecendo.

Passo a crer que tudo deve acontecer com o seu devido esforço, nem de menos que não me faça dar o devido valor e nem de mais que me faça sacrificar demasiadamente.. Na perfeita harmonia, como deve ser. 

E minha viagem para Brasília tem se organizado em perfeita harmonia... Eu então lembro quando o solo era apenas um rabisco no papel... Meu corpo frágil e inquieto, parecia sucumbir. Hoje, cada vez mais fortalecido reage com coragem e se diverti com os riscos e as surpresas misteriosos que surgem no caminho.

Me sinto leve... E por isso vôo.
Me sinto forte... E por isso reajo.
Me sinto corajosa... E por isso sigo.
Me sinto feliz... E por isso danço.

Em marcha e avante a espera ansiosa pelos poéticos e inesquecíveis encontros que Brasília sempre me proporcionou.







sexta-feira, 23 de maio de 2014

Intuindo, percebendo, confiando...


Em meados do dia 20 de setembro de 2012, viajei para Brasília. Fui para o encontro de 20 anos do CIT (Colégio Internacional dos Terapeutas). Eu e mais dois amigos apenas confiávamos em nosso desejo de estar presente neste encontro, fomos agarrando as oportunidades que nos levariam até Brasília... Tínhamos pouco dinheiro, mas muito desejo... O Universo conspirou ao nosso favor e lá estivemos.

E por que estaria eu agora revivendo essa história?

Por que foi neste encontro que eu senti que algo em mim mudaria... Não sabia muito bem o que e nem como... Mas todas as sábias palavras que ouvi, reverberavam em mim e faziam tanto sentido que a partir daquilo eu tinha um novo caminho a trilhar... Eu não imaginava que caminho seria este, apenas sentia o novo germinando em mim. Vivi dias mágicos, poucos, mas intensos... Muitas coisas aconteceram, e confesso que apenas de lembrar o coração acelera e explode de alegria e felicidade! Foi lá também, que por vontade própria eu quase raspei o cabelo, havia uma desejo verdadeiro de ser careca.  


Palavras doces tocaram minha alma,
Renovei meus votos com a espiritualidade,
Mergulhei em águas frias,
Aqueci-me em abraços calorosos,
Hesitei em acreditar que era merecedora de tanta benção.
Dancei o momento.
E ganhei asas para voar...

Lembro-me que no avião de volta a São Paulo, sozinha, eu desenhava mandalas e vislumbrava um novo mundo para mim... Novos desejos, novos planos e uma vontade imensa de fazer tudo novo... Lembrando, isso tudo era muito poético, lindo, mas eu não tinha noção por onde deveria começar.

Eis que 3 meses depois deste evento, eu recebo o diagnóstico de Câncer de Mama... E o que eu havia intuído aconteceu... Algo em mim mudou e eu trilhei um novo caminho.

E lá em Brasília, foi plantado o germe da plenitude em mim, no encantamento da sede da Unipaz na Granja do Ipê, na tranquilidade da Casa do Silêncio, na amorosidade dos encontros e nas águas purificantes da cachoeira.  

Como nada nessa vida é por acaso, linda sincronia a primeira viagem do solo “Inquieta Razão” ser em Brasília. E o que eu sinto é que estarei retornando para validar os votos de mudanças que intui em 2012, pois ainda sem ter muita consciência de tudo que mudou, sei que estou trilhando um novo e belo caminho, repleto de gratidão e confiança.

3°Mostra de Dança “Solos na Sala”, me apresento dias 20 e 21 de junho.
Quando estiver mais perto eu posto mais informações.


sexta-feira, 16 de maio de 2014

FIM...

O dia começou e só de lembrar o que acontecerá eu já me emociono

ACABOU. Fim das sessões de Herceptin! 
Os dias de risadas e cochilos no AC. Camargo chegam ao fim!
Sentirei saudade deste dia de descanso,
Dos cuidados das enfermeiras,
Das conversas malucas que insistia em ter dopada...

Hoje faço a última aplicação, e só de pensar o coração acelera.
Fim de mais uma etapa do tratamento. 
Cada vez mais eu me distancio dos medicamentos.
Da rotina do hospital.
Mas fica a saudade de todos aqueles que cuidaram de mim lá dentro. 

...
...
...

Ainda nem sai de casa... E já estou emotiva e sensível em saber que hoje será uma despedida.
Não apenas da equipe da enfermagem, mas de um ciclo de medicações,
De sexta-feiras dopadas, de dias aparentemente "perdidos".

Um post incompleto, com palavras engasgadas, com um choro contido,
Mas com palavras repletas de esperança! 


quinta-feira, 8 de maio de 2014

Inquieta Razão em movimento...

Inquieta Razão é um trabalho inspirado nas Quatro Estações do ano como fases vivenciadas pela própria bailarina no processo de cura de um diagnóstico de Câncer de Mama. A escolha de dançar sua dor é uma forma de despertar de um sono profundo, que a fez entrar em colapso e desordenadamente células se multiplicaram ameaçando sua existência. É a partir dos quatro elementos que o movimento da vida pulsa novamente, levando para cena suas próprias lembranças revividas em seu corpo, pois o que sentiu jamais será esquecido. 


sexta-feira, 25 de abril de 2014

Contínua...


Eu que pensei que estivesse entregue a isso tudo,
Vejo que não, hesito.
Um escorregão e eu chego a duvidar do que a vida tem para me oferecer.
Os fantasmas da doença me fazem questionar a vida, a cura, e até Deus.
Chego a pensar friamente no fim...
Um susto... Um sinal de alerta... Um recomeço...
Talvez preciso aprender com as leoas a usar meu instinto de proteção,
Reagir as adversidades da vida com mais força e coragem.
Não permitir que me ataquem, e que façam comigo aquilo que querem!
A menina frágil e amedrontada ainda mora dentro de mim,
E de vez em quando, cisma em aparecer.
Talvez precise de uma dose de loucura para fazer acontecer aquilo que desejo...
Quem sabe devo me lançar nos abismos...
Afinal, o que são os abismos, se não buracos vazios, cheios de possibilidades.
Pois é neste vazio que pretendo me lançar...
Com a coragem de uma leoa...
E a sutileza de um pássaro...

“Oh I've finally decided my future lies
Beyond the yellow brick road



Essa poesia chegou até mim hoje, e sincronicamente diz o que desejo...


"Apenas danço. 
Instinto seria um bom motivo
Danço ao som do seu sorriso
Uma dança pagã aritmada 
Entre as elipses de suas formas
Arrefecido e febril eu danço
Insanidade seria um bom motivo
Pra saltar os precipícios adiante
Tomar impulso e partir
Retirar as vendas em queda livre
E sentir prazer ao cair
Sobrevivência um justo motivo
Para estar nu diante dos inquisidores
Sorrir apenas, sem intenções pensadas,
Cantar porque é vital
Ou seria medo o tal motivo?
Da solidão ensimesmada e presente
De me abandonar diante do espelho
De me confundir com alguém que nem conheço
Um motivo triste seria a fome
Seria biológico e rígido demais
Apenas o cumprimento de um ciclo 
Encerrando numa noite fria
Penso por que eu danço 
Ao som do seu sorriso 
Por que me queima essa febre 
E na ignorância pura dos infantes 
Alucinadamente e dopado eu danço
E faço do amor o meu maior motivo." 
Vladimir Wingler



sexta-feira, 4 de abril de 2014

Inquieta Razão em movimento

Voltando a vida, ao movimento, a cena, a entrega cotidiana a arte que me motiva a viver... Dançar!

Apresento o solo  "Inquieta Razão" na Mostra de Intérpretes-criadores no Núcleo Pedro Costa! Trabalho inspirado nos textos do blog e em toda vivência no processo de cura do Câncer de Mama!




segunda-feira, 24 de março de 2014

Costurando a vida...





E mais de um ano se passou, já não tem mais o medo e a angústia, incômodos e aflições... Agora a vida se renova a cada amanhecer... E tudo parece ser apenas uma lembrança...

Aqueles dias ficarão pra sempre em minha memória, em meu coração, e em meu corpo... As marcas continuarão existindo, uma lembrança viva de tudo o que passei.

Tudo parece uma lembrança, mas nem sempre é... Quando penso que isso tudo está no passado, eu me engano... É como se ainda, uma aflição muito grande tomasse conta de mim, uma dor imensa... Não pelo que foi, mas pelo que poderia ter sido. É inevitável não pensar que eu poderia não ter descoberto a tempo de me curar, eu me pego pensando o que poderia ter acontecido... Eu sei o que poderia ter acontecido... Morte! E isso não é assustador... É real! Me obriga a valorizar cada segundo da minha existência.

Eu lembro dos dias que queria muito sair, e não podia... Ou não conseguia. Lembro de ver os dias passando pela janela do quarto... E agora sempre que sinto vontade de resmungar, eu também sinto a tristeza daqueles dias, o desejo que tinha de sair correndo pela rua, de dançar até cair, de ver gente,... É essa vontade que hoje silencia qualquer inquietação ou reclamação do meu dia.

Agora os medos são outros, as angustias também... Mudaram os incômodos e as aflições... Como um ciclo... Mas nada comparado a dor de ver minha vida ameaçada. Eu sinto que fiz uma passagem... Muitas coisas mudaram em meu jeito de Ser... O que me faz encarar decepções, problemas, tristezas, incômodos, de uma forma mais clara e menos sofrida. Parece que escuridão maior do que os dias que tive, não existirão. 

A vida se renova,... Eu mudei, é inevitável que mude também o que me cerca... Isso me levou a mudar de trabalho... Mudar de planos... Tive que mudar o percurso. E coisas sempre ficam para trás, faz parte abandonar malas, talvez as pegue em algum outro momento, talvez fique onde estão...

É assim, caminhando em minha própria direção... Sigo em frente, passo a passo, sem esquecer que enquanto um pé está no futuro, o outro ainda está no passado, e no meio deles, em uma fração de segundo eu estou no presente, plena e viva dançando a música do meu coração.

"Costura da vida" 

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Recomeçar...

“Mas aí, sem que se saiba por que, a gota de chuva cai, o vento se vai, e ficamos de mãos vazias. E só nos resta esperar. Como esperamos que o ipê floresça de novo.” Rubem Alves

Há um pouco mais de 1 ano atrás em perambulava pelas ruas do centro de Diadema, perdida, assustada, triste e ansiosa... Após fazer o primeiro exame, que deveria ser simplesmente de rotina foi como um soco na boca do estômago, apenas pela pergunta “Tem caso de Câncer na família?”... Eu entendi o que ela queria dizer com aquela pergunta, mas confesso que não queria acreditar que poderia ser possível estar com Câncer. Até então ninguém sabia que eu estava fazendo estes exames, sai da clinica e andei sem paradeiro... Chorava desesperada só de pensar nessa possibilidade, e comecei a imaginar como avisar isso a minha família.

Eu morava sozinha e há muitos anos não dava satisfação a ninguém, e de repente me vi como uma criança perdida buscando os braços nos pais carinho e proteção. E no dia 3 de dezembro, quando recebi o diagnóstico vi não só o meu mundo desabar, mas de toda a minha família… Meu pai adoeceu, sei que meu irmão Diogo só chorava, o Tiago sempre animado (mas creio que dentro dele uma tristeza imensa) minha mãe se fazia de forte (provável que a mais forte de todos, o que me surpreendeu), a Nina pouco entendia… E meus amigos? Estavam por perto!

E assim eu comecei o ano de 2013, em plena tempestade, sabendo que seria um ano difícil. Mas registrei em minha memória os bons momentos, foi o ano em que mais estive com a minha família, com os meus amigos, viajei muito, fiz passeios incríveis, dei muita risada, mas não posso negar que foi doloroso e sofrido…

Hoje antes de sair de casa passei protetor solar, o mesmo que usava durante a quimioterapia, e um choro incontrolável aconteceu… Em segundos eu revivi a angustia do tratamento, meu corpo enfraquecido, assustado com tanta química,  senti as dores na cabeça, no estômago, no corpo e na alma… O desespero de querer reagir e não conseguir… Sei que tudo isso ficou pra trás, mas hoje percebi que essas lembranças me acompanharam por um bom tempo. Estas lembranças talvez sirvam para me lembrar do que aprendi…

Sabe o que quero de verdade?Jamais perder a sensibilidade, mesmo que às vezes ela arranhe um pouco a alma. Por que sem ela, não poderia mais sentir a mim mesma.”  Clarice Lispector 

Creio que minha vontade de viver, pode ter mudado meu destino. Eu hoje andava pelas ruas do centro de Diadema com um sorriso no rosto, feliz e grata, simplesmente por estar ali andando pelas mesmas ruas que há um ano eram escuras e frias. E parece bobagem, mas a sensação era “Não acredito que estou aqui, que um ano se passou, que o tratamento acabou, e que hoje vislumbro um novo e encantado amanhã, cheio de novas possibilidades, nova vida, novo emprego, novo namorado (rs), novos amigos, novo cabelo, novos planos e metas,…. 

Eu pretendo em breve fazer uma retrospectiva de fotos de 2013, algo que me lembre que 2013 eu não apenas sofri… Mas que também me ensinou a “amar as pessoas como se não houvesse amanhã”, pois de fato não há… Me ensinou a cantar todos os dias pela manhã “ Eu agradeço, eu agradeço, eu agradeço, eu agradeço…”, simplesmente por acordar plena de saúde e ter em frente um dia pra se viver… Me ensinou a “fiar com” o mistério divino, que tudo sabe… Me ensinou a ter coragem, me falou sobre desapego, entrega, confiança, amizade e sobretudo sobre fé.


Eu pretendo não perder este sentimento que me emociona toda vez que me lembro de 2013… Eu sinto vontade de chorar, não de tristeza, mas de alegria por ter superado tudo e de ter uma nova chance para RECOMEÇAR!

Espetáculo 10 anos Associação Passo a Passo 21.12.13
Coreografia Recomeçar

" Não importa onde você parou... Em que momento da vida se cansou... O que importa é que sempre é possível e necessário RECOMEÇAR. Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo... É renovar as esperanças na vida e o maiis importante... Acreditar em você de novo." Carlos Drummond de Andrade
Providencialmente, terminei o ano em cena com os meus alunos, inspirada pelas sábias palavras de Drummond. Registrei naquele momento o fim de um ciclo, e o início de um novo e belo Recomeçar!