“Mas aí, sem que
se saiba por que, a gota de chuva cai, o vento se vai, e ficamos de mãos
vazias. E só nos resta esperar. Como esperamos que o ipê floresça de novo.” Rubem Alves
Há um pouco mais
de 1 ano atrás em perambulava pelas ruas do centro de Diadema, perdida,
assustada, triste e ansiosa... Após fazer o primeiro exame, que deveria ser
simplesmente de rotina foi como um soco na boca do estômago, apenas pela
pergunta “Tem caso de Câncer na família?”... Eu entendi o que ela queria dizer
com aquela pergunta, mas confesso que não queria acreditar que poderia ser
possível estar com Câncer. Até então ninguém sabia que eu estava fazendo estes
exames, sai da clinica e andei sem paradeiro... Chorava desesperada só de
pensar nessa possibilidade, e comecei a imaginar como avisar isso a minha
família.
Eu morava
sozinha e há muitos anos não dava satisfação a ninguém, e de repente me vi como
uma criança perdida buscando os braços nos pais carinho e proteção. E no dia 3
de dezembro, quando recebi o diagnóstico vi não só o meu mundo desabar, mas de
toda a minha família… Meu pai adoeceu, sei que meu irmão Diogo só chorava, o
Tiago sempre animado (mas creio que dentro dele uma tristeza
imensa) minha mãe se fazia de forte (provável que a mais forte de todos, o que
me surpreendeu), a Nina pouco entendia… E meus amigos? Estavam por
perto!
E assim eu
comecei o ano de 2013, em plena tempestade, sabendo que seria um ano difícil. Mas registrei em minha memória os bons momentos, foi o ano em que mais
estive com a minha família, com os meus amigos, viajei muito, fiz passeios
incríveis, dei muita risada, mas não posso negar que foi doloroso e sofrido…
Hoje antes de
sair de casa passei protetor solar, o mesmo que usava durante a quimioterapia,
e um choro incontrolável aconteceu… Em segundos eu revivi a angustia do
tratamento, meu corpo enfraquecido, assustado com tanta química, senti as dores na cabeça, no estômago, no
corpo e na alma… O desespero de querer reagir e não conseguir… Sei que tudo
isso ficou pra trás, mas hoje percebi que essas lembranças me acompanharam por
um bom tempo. Estas lembranças talvez sirvam para me lembrar do que aprendi…
Sabe o que quero de verdade?Jamais perder a
sensibilidade, mesmo que às vezes ela arranhe um pouco a alma. Por que sem ela,
não poderia mais sentir a mim mesma.” Clarice Lispector
Creio que minha
vontade de viver, pode ter mudado meu destino. Eu hoje andava pelas ruas do
centro de Diadema com um sorriso no rosto, feliz e grata, simplesmente por
estar ali andando pelas mesmas ruas que há um ano eram escuras e frias. E
parece bobagem, mas a sensação era “Não acredito que estou aqui, que um ano se
passou, que o tratamento acabou, e que hoje vislumbro um novo e encantado
amanhã, cheio de novas possibilidades, nova vida, novo emprego, novo namorado
(rs), novos amigos, novo cabelo, novos planos e metas,….
Eu pretendo em
breve fazer uma retrospectiva de fotos de 2013, algo que me lembre que 2013 eu
não apenas sofri… Mas que também me ensinou a “amar as pessoas como se não
houvesse amanhã”, pois de fato não há… Me ensinou a cantar todos os dias pela
manhã “ Eu agradeço, eu agradeço, eu agradeço, eu agradeço…”, simplesmente por
acordar plena de saúde e ter em frente um dia pra se viver… Me ensinou a “fiar
com” o mistério divino, que tudo sabe… Me ensinou a ter coragem, me falou sobre
desapego, entrega, confiança, amizade e sobretudo sobre fé.
Eu pretendo não
perder este sentimento que me emociona toda vez que me lembro de 2013… Eu sinto
vontade de chorar, não de tristeza, mas de alegria por ter superado tudo e de ter
uma nova chance para RECOMEÇAR!
Providencialmente, terminei o ano em cena com os meus alunos, inspirada pelas sábias palavras de Drummond. Registrei naquele momento o fim de um ciclo, e o início de um novo e belo Recomeçar!
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