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“Brinco com a minha tristeza como quem cuida de uma amiga fiel…” Rubem Alves Foto: Arnaldo J. G. Torres |
Quando me
perguntam como estou, a única coisa que consigo dizer é: "Estou
cansada". Meu corpo resmunga e minha alma grita! Não são gritos de socorro
e desespero, agora gritos de braveza, coragem, força e raiva... Sim raiva!
Eu tive forças o
suficiente para combater as dores e não permiti que o sofrimento se alojasse
aqui… Agora eu me sinto cansada e com raiva disso tudo! Eu fui capaz de me
colocar em pé na linha de frente da batalha e guerrilhei com todas as armas que
encontrei. Eu vi meu existir ameaçado, senti meu corpo sucumbir, suportei dores
e incômodos, resiste bravamente e pouco resmunguei, não fraquejei e pouco
chorei.
Pois agora que a
batalha foi vencida, eu transbordo em lágrimas e desabo, sei que não serei mais
atacada, acabaram as sessões de quimioterapia e radioterapia, e por isso meu
corpo agora se lança no chão. E se for preciso aqui ficarei até reencontrar
minhas forças!
Recebi alta
médica, mas sinceramente ainda não sinto alegria… Sinto um cansaço na alma. Fui
bombardeada por todos os lados, meu corpo está despedaçado. Não creio que
repentinamente eu tenha ficado pessimista, e tão pouco me falte gratidão. Mas
vejo que agora tenho uma visão realista do que vivi. Fico tentando mensurar o
peso que carreguei, não sei… Mas sei que foi pesado e por questão de
sobrevivência, não fraquejei! Essa resistência garantiu minha sobrevivência. Eu
poderia ter desistido, e se quer ter lutado.
Mas eu lutei, e agora…
Permitam-me por favor que eu chore! Deixe-me gritar, resmungar, xingar e até
duvidar de Deus... Eu não posso aceitar com sorrisos de gratidão todas as dores
que senti, seria uma atitude apática. Em algum momento eu precisaria questionar...
Por que ameaçar a minha existência!? Logo a minha? Sinto que foi essa
inquietação, que silenciosamente me gerou forças para lutar a favor da vida.
Pois eu NÃO aceitei a condição imposta, eu NÃO me deixei ser vencida.
Estou entrando
nos meus cantos, desapertando os nós, abrindo as comportas, me descobrindo, me
reconhecendo, me aceitando e me libertando... Chorando e gritando, estou
descobrindo o que restou... E talvez do que tenha restado, seja na verdade o
que realmente Sou.
E foi por tudo
isso que escrevi, que me ausentei do blog… Fiquei exaurida com as sessões de
radioterapia, é literalmente um bombardeio… Me senti e ainda me sinto confusa
com a possibilidade de ter que retomar a vida… Não sei nem por onde começar… Parece
que não restaram forças para recomeçar…
O sofrimento regado pela
esperança, é o que dá sentido as lágrimas que escorrem pelo meu rosto neste
momento, é sentindo essa dor que eu penso em coisas que de outra forma eu não
pensaria. É parte de um processo para se criar um futuro novo. E como bem diz
Rubem Alves, é como o sofrimento das dores de um parto que vêm pela alegria de
se saber que uma criança vai nascer.
Neste momento quero
como companhia as palavras de Rubem Alves, Bernhard Wosien, Fernando Pessoa, a
música de Ravel, Vivaldi, Bach, a vivacidade das flores, o canto dos pássaros,
a leveza das águas, o calor da chama… E o movimento... Quero o movimento do ar
entrando e saindo do meu corpo, do sangue circulando em minhas veias, do pulsar
do coração… Quero apenas sentir o movimento da vida que existe em mim!
RTZB