Se me perguntar do que eu mais tenho sentido
falta... Não é de dança, nem palco... Não é de movimento... Não do movimento
que por tantos anos sustentou minha existência... Não é do palco, muito menos
de aplauso. Eu sinto falta da liberdade, da libertinagem... De pegar o carro e
sair... De tomar um porre, de fumar um cigarro, de conhecer um monte de
gente em uma noite só, de passar na padaria para tomar café antes de chegar em
casa, de me apaixonar por um olhar, de me
desapaixonar... Eu não desejo isso, talvez
seja só saudade... Saudade de uma vida bem vivida, de uma adolescência moleca.
Na verdade mesmo, eu tenho saudade é do sentimento que eu tinha enquanto eu
vivia isso tudo, como se a realidade que eu construí fosse única, encantadora e
que satisfazia todos os meus desejos e vontades. Chato era ter que me
desapaixonar, vivia uns dias de tristeza e solidão até esquecer alguém... Mas
também isso não demorava muito, era rápido e logo vinha outro alguém ocupar
minha cabeça, e assim eram os dias. Eu trabalhava o dia todo, não deixava de
trabalhar para curtir a minha farra. Mas o que mais me encantava era a
liberdade, de sair sozinha... Ter o mundo nas mãos
e poder fazer o que quisesse e ir para onde quiser, não se preocupar com o “é
proibido”... Simplesmente ir... De não se importar e simplesmente ir. É, eu não tenho saudade
na verdade do que eu fazia, eu não desejo fazer nada disso novamente... Mas eu
desejo ter este sentimento, de liberdade, prazer, alegria, euforia...
Simplesmente ir!Me encher de coragem, acelerar o carro e simplesmente ir
em direção daquilo que eu desejo, sem nenhum medo, sem nenhum questionamento,
sem nenhuma desculpa, sem nenhuma culpa, ir... Se me perguntar o que eu mais
tenho sentido falta, é de simplesmente ir.

Alguma noite no Villa Country a alguns bons anos atrás.